A Voz da Diocese para domingo dia 14 de Janeiro - “Ninguém nasce cristão, mas torna-se cristão”
Minha
saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Na
caminhada da Igreja Católica, em todo o Brasil, estamos vivendo o processo de Iniciação
à Vida Cristã. Trata-se do processo de transmissão da fé e dos valores do Evangelho,
às novas gerações. Desse modo, a Iniciação à Vida Cristã apresenta-se como um
dos grandes desafios pastorais da atualidade. Diversas questões culturais e
sociais dificultam o processo da iniciação à vida cristã. No contexto histórico
de “cristandade”, por muitos séculos, a sociedade transmitia a fé cristã, às
novas gerações, por meio dos pilares sociais, religiosos e culturais. Naquele
contexto era natural ser cristão ou nascer cristão, restando à Igreja o “ato
segundo”, o da catequese, centrada no ensino, na transmissão dos conteúdos e na
administração dos sacramentos. Se naquele contexto era lógico ser cristão,
hoje, as mudanças culturais e tecnológicas apontam para a necessidade de um
profundo processo de evangelização. Com muita razão, Tertuliano, no século II,
dizia que “ninguém nasce cristão, mas
torna-se cristão!” (Apol. XVIII,4). Por isso, hoje é claro para todos nós
que não se chega a ser cristão apenas por tradição familiar ou pela celebração
do rito do batismo, oficiado pela Igreja. A iniciação à vida cristã é todo um
processo pelo qual alguém é inserido no itinerário da fé cristã.
Prezados
irmãos e irmãs. A Liturgia da Palavra, sobretudo o Evangelho, deste fim de
semana, faz ver como ocorreu o processo de iniciação
à vida cristã, na comunidade dos primeiros discípulos de Jesus. Todos nós,
hoje, somos convidados a nos espelhar nesse processo. Os passos que ocorreram
são significativos. Vejamos!
1º passo: o testemunho.
Tudo começa com o testemunho de João Batista, que anunciou a seus discípulos: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo (...) Eu vi e dou testemunho que ele é o Eleito de Deus” (Jo 1,29.34).
O testemunho é fundamental no processo de evangelização e de iniciação cristã.
Em primeiro lugar, e acima de qualquer coisa, evangelizar é partilhar com as
pessoas a vivência da experiência de Deus. Só pode indicar Jesus a alguém, quem
fez a experiência de um encontro profundo com Ele. Isto aponta à importância do
testemunho de fé e de participação de todos, na comunidade eclesial. O
testemunho de João Batista fez com que seus discípulos seguissem Jesus. O
testemunho de André fez com que Pedro, seu irmão, seguisse Jesus. O nosso
testemunho pode ajudar outras pessoas a seguirem Jesus.
2º passo: o encontro. O
testemunho de João Batista levou seus discípulos a buscarem Jesus. Perguntou
Jesus àqueles que o encontraram: “Que
estais procurando?” (Jo 1,38). No percurso de nossa história, há buscas
corretas e buscas equivocadas. Na intenção de conhecer Jesus Cristo, saber e
compreender Sua proposta, como também entender seu Evangelho, eles perguntaram
a Jesus: “Mestre, onde moras?” (Jo 1,38). Somente uma convivência amável, de
conversa pessoal com o Mestre, seria possível conhecer tudo o que Jesus tinha a
dizer e ensinar. Jesus, aberto ao anseio deles, acolheu-os com alegria,
dizendo-lhes: “Vinde e vede” (Jo 1,39).
A busca daqueles moços gerou um encontro
com Jesus: “Eles foram e viram onde Jesus
morava” (Jo 1,39). André “conduziu
Simão a Jesus” (Jo 1,42), para que se encontrasse pessoalmente com Ele. É o
encontro pessoal com Jesus que transforma a pessoa.
3º passo: o seguimento. O
encontro com Jesus, no contexto de Sua vida, gerou naqueles homens a vontade
grande de ser e de viver como Ele. Então, eles foram, viram, encantaram-se com Jesus
e com Ele passaram a conviver. Dessa forma, a vida daqueles simples jovens
transformou-se para sempre, fazendo com que eles aderissem a Jesus e à sua
proposta, a ponto de decidirem por “permanecer
com ele” (Jo 1,39), aceitando ser Seus discípulos. Permanecer com Jesus significa aceitá-Lo como Mestre e Guia da
vida, ponto de partida para o Seu seguimento.
4º passo: a missão. Em
Mateus, a missão dos Onze Discípulos é fazer com que “todos os povos se tornem discípulos de Jesus” (Mt 28,19). Em
decorrência desta missão, Jesus “constituiu
Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3,14).
Permanecer com Jesus, significa viver como Ele e deixar-se modelar, num
itinerário de seguimento, a ponto de ser por Jesus enviado em missão. Assim, “Jesus enviou os Doze” (Mt 10,5). Em
consequência desse envio, diz o Evangelho: “Eles partiram e pregaram por toda a parte. O Senhor agia com eles e
confirmava a Palavra, por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20).
Caros
irmãos e irmãs. O Evangelho mostra o caminho que todos nós devemos seguir. O
itinerário da vida cristã é um processo que parte do testemunho das pessoas, provocando
nelas o desejo do encontro e o seguimento de Jesus e, por consequência, o envio
à missão de evangelizar. Desse modo, peçamos a graça e a
coragem de percorrermos esses passos, no seguimento de Jesus, tornando-nos cada
vez mais cristãos autênticos e fiés.
Deus
abençoe a todos, e bom domingo!
Dom Adimir Antonio Mazali - Bispo Diocesano de Erechim – RS