Voz da Diocese – “Jesus ensina com autoridade” – Bispo Dom Adimir Mazali
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Estamos no último domingo do mês de janeiro, no qual é apresentado o Evangelho de Mc 1,21-28. Tal passo do Evangelho descreve Jesus no início de seu ministério. Jesus de Nazaré, em dia de sábado, encontra-se na sinagoga de Cafarnaum, cidade junto ao Mar da Galileia, na qual dedicou grande parte de sua missão.
Prezados
irmãos e irmãs. O evangelista Marcos está preocupado em mostrar quem é Jesus, e
como ser discípulo Dele. Para isso, não faz nenhuma definição abstrata. O
Evangelho de Marcos apresenta Jesus sempre em movimento, em ação. A partir
daquilo que Jesus faz e ensina, as pessoas vão vendo e descobrindo quem Ele é.
O trecho de hoje é de grande importância, pois se trata do primeiro ato público
de Jesus. Além disso, o que encontramos nesses versículos é uma amostra daquilo
que Jesus fará constantemente, ao longo de todo o seu ministério, a saber:
libertar as pessoas daquilo que as aliena.
Jesus,
num sábado, entrou na sinagoga, com os primeiros discípulos que acabara de
convidar para segui-lo. O sábado é o dia sagrado, na tradição judaica, dia de
celebrar a vida e a comunhão com Deus. A sinagoga é o espaço em que a
comunidade se reúne para estudar a Sagrada Escritura e para celebrar. Jesus
“entrou na sinagoga e começou a ensinar” (Mc 1,21), pela primeira vez. Todos na
sinagoga “ficaram admirados com o seu ensinamento, pois ele ensinava com
autoridade, e não como os mestres da Lei” (Mc 1,22). As pessoas percebiam em
Jesus algo que não encontrava em seus rabinos. A autoridade de Jesus é
diferente da autoridade dos mestres da Lei. Sua autoridade vinha de seu coração
cheio do Espírito Santo de Deus, de sua prática misericordiosa, de seu testemunho
de fé e de amor para com as pessoas. As palavras e os ensinamentos de Jesus não
provinham do poder terreno ou humano. Jesus não produz submissão, infantilismo
ou passividade. Jesus liberta as pessoas fazendo-as caminhar de forma autônoma
e a sair da dependência. No Reino de Deus, o qual Jesus pregou e serviu, não há
espaço para opressores e oprimidos, pois todos somos irmãos.
Desse
modo, segundo o Evangelho: “Estava na sinagoga um homem possuído por um
espírito mau” (Mc 1,23). Chama a atenção, neste texto, o diálgo direto entre o
espírito impuro com Jesus: Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos
destruir? Eu sei quem tu és (Mc 1,24)? Aquele homem possuído representa todas
as pessoas sem identidade, que vivem no anonimato, excluídas e às margens da
sociedade religiosa e política, impedidas de falar e agir, como sujeitos da
própria vida e história. Pessoas que não são donas de si próprias, pois sua
vida e destino dependem de outros que pensam, falam e agem por elas. Os
“espíritos maus” jamais admitirão que as pessoas sejam libertas e livres. Por
isso, ele gritou contra Jesus: Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para
nos destruir (Mc 1,24)? Esse espírito mau representa as alienações e os
projetos injustos, em vista de alguns privilegiados, e não em vista do bem
comum.
Caros
irmãos e irmãs. Jesus não vem destruir ninguém. Tem autoridade, precisamente
porque veio dar vida, e em abundância, a todas as pessoas. Os ensinamentos de
Jesus humanizam e liberta as pessoas das escravidões e alienações. Por isso,
Jesus se impôs fortemente, dizendo: Cala-te e sai dele! (Mc 1, 25). Sim, os
espíritos maus sacodem violentamente as pessoas, e mais do que isso, destroem
as pessoas. O ensinamento de Jesus libertou o homem daquilo que o atormentava.
E, por consequência, “todos ficaram muito espantados e perguntavam-se uns aos
outros: O que é isto” (Mc 1,27)? E diziam: Um ensinamento novo dado com
autoridade! Ele manda até nos espíritos maus e eles obedecem! (Mc 1, 27). Não
se trata de uma força mágica de Jesus. Com sua presença, seus ensinamentos e
seus sinais, Jesus pôs em movimento um processo de transformação pessoal e
social, fruto de um ensinamento novo. Seu objetivo é estabelecer o Reino de
Deus, que implica em libertar as pessoas de tudo o que as oprimia, e as tornava
alienadas, dependentes, empobrecidas. O que Jesus busca é a saúde integral das
pessoas.
Caríssimos
irmãos e irmãs. Podemos dizer que o primeiro trabalho realizado por Jesus foi
ensinar e libertar as pessoas de suas alienações. Por sua vez, Jesus não é um
professor que ensina um saber acadêmico, mas um mestre que convive com os
discípulos no meio do povo, cuja vida pública começa com um trabalho educativo,
cuidado com as pessoas, sobretudo dos doentes. Acolhamos com alegria e abertura
de coração os ensinamentos de Jesus, pois “Ele ensina com autoridade” (cf. Mc
1, 22).
Deus
abençoe a todos, e bom domingo!
Dom
Adimir Antonio Mazali
Bispo
Diocesano de Erechim – RS