Síndrome do olho seco: preocupação para mulheres acima de 50 anos

(A lágrima e alimenta e protege a superfície dos olhos  Foto: Shutterstock)

A síndrome do olho seco, também conhecida como síndrome da disfunção lacrimal, é uma condição crônica caracterizada pela diminuição da produção de lágrima ou deficiência em alguns de seus componentes. Segundo a Associação Brasileira dos Portadores de Olho Seco (APOS), entre 13% e 24% dos brasileiros, o que equivale a 18 milhões de pessoas, sofrem com a doença, sendo que a proporção é de três mulheres para cada homem.

Os sintomas podem variar dependendo do quadro geral de saúde do paciente, mas, na grande maioria dos casos, podem incluir sensação de ardor, coceira, vermelhidão, visão turva, sensibilidade à luz e desconforto ao usar lentes de contato.

Mulheres com mais de 50 anos precisam ter maior cuidado devido à prevalência e aos desconfortos que pode causar. A médica oftalmologista Terla Nunes enfatiza a importância de procurar ajuda profissional para um diagnóstico preciso e tratamento adequado. A conscientização sobre a condição e a compreensão dos fatores de risco podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das mulheres que sofrem com a síndrome do olho seco.

Terla explica que a condição ocorre quando há falta de produção de lágrima ou quando esta está alterada em algum de seus componentes, provocando evaporação excessiva. Apesar de ser um problema de baixa gravidade, merece atenção por ser muito prevalente na população.

Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento do olho seco em mulheres acima de 50 anos. Entre as causas comuns que provocam a evaporação excessiva da lágrima estão as disfunções das glândulas palpebrais, como blefarites e meibomites, o uso prolongado de telas, bem como de ar-condicionado e ventiladores, e ainda fatores ambientais, como a baixa umidade do ar e o vento.

Cuidados que ajudam na prevenção

O médico oftalmologista Marcus Safady explica que a queda da umidade relativa do ar costuma piorar os sintomas de quem tem a síndrome do olho seco. Ele observou que o computador também desencadeia sintomas de ressecamento ocular para uma pessoa que normalmente não tem essa síndrome. Isso é agravado se o ambiente tem ar condicionado muito frio.

“Só o uso do computador, por si só, e vários estudos mostraram isso, diminui o índice de piscar, que faz a lágrima renovar e proteger o olho de maneira eficaz.”

De acordo com o oftalmologista, a gente pisca, em média, uma vez a cada seis ou dez segundos. Estudos indicam que quando a pessoa está no computador, ela chega, às vezes, a ficar 30 segundos sem piscar, com repercussões na lubrificação ocular e nos sintomas de ressecamento.

A recomendação é que a pessoa procure piscar mais vezes diante do computador, sendo a média ideal a cada dez segundos. “Ao mesmo tempo, piscar mais e instilar mais o colírio protetor. A orientação básica é essa: piscar e lubrificar.”

Além disso, existem outros fatores que causam redução da produção lacrimal, como alterações hormonais do climatério e menopausa; doenças sistêmicas (Diabetes Mellitus, Parkinson, Síndrome de Sjögren, Artrite Reumatoide); tabagismo; uso de lentes de contato e uso de estrogênio.

Também fazer parte desta lista alguns medicamentos sistêmicos utilizados para tratar alergias, arritmias, depressão, insônia, hipertensão arterial e hipercolesterolemia; medicamentos oculares (especialmente aqueles que contêm conservantes e beta bloqueadores para glaucoma); deficiências nutricionais e diminuição da sensibilidade da córnea por infeções oculares prévias causadas.

"É muito comum que a mulher tenha vários dos fatores citados acima como desencadeadores dos sintomas desagradáveis", acrescenta.

De acordo com Terla, o tratamento do olho seco para a faixa etária 50+ não difere do tratamento realizado para outras idades, salvo pela maior atenção necessária quanto às questões de oscilações e deficiências hormonais, que afetam principalmente as mulheres no climatério.

"É necessária a avaliação com o ginecologista e endocrinologista para verificar a indicação de terapia de reposição hormonal. Quanto ao uso de medicamentos sistêmicos, é importante cuidar que não podem ser suspensos ou alterados por conta própria, sendo necessário discutir riscos e benefícios do uso com o médico prescritor", alerta.

O tratamento consiste na abordagem da causa, como blefarites, em uso de medicações tópicas lubrificantes, anti-inflamatórias, imunomoduladoras e estimuladores da produção lacrimal. Como tratamentos não medicamentosos, a médica oftalmologista cita a aplicação de luz intensa pulsada e termomecânica, além da colocação de plugs lacrimais.

Desafios e recomendações

Um dos principais desafios no tratamento da síndrome do olho seco, segundo Terla, é fazer a mulher entender que se trata de uma condição crônica e uma predisposição, a qual é possível ser tratada para alívio e controle dos sintomas.

"Muitas mulheres trocam de médico referindo que o tratamento não funcionou, quando na verdade era necessário a manutenção deste e o autoconhecimento, aprendendo a evitar fatores que desencadeiam, mantendo os cuidados de higiene palpebral contínua", enfatiza.

Outro desafio é o fato de se tratar de uma afecção multifatorial e, portanto, em geral causada por diversos mecanismos a serem abordados um a um. O uso sistêmico indiscriminado de drogas psicotrópicas, indutores do sono e antidepressivos é um enorme problema a partir dos 50 anos.

A médica oftalmologista observa um número expressivo de mulheres com prescrições de vários medicamentos associados que causam olho seco e os quais são dificílimos de serem manejados. "É importante salientar que em muitos destes casos, a realização de atividade física intensa diária e uma alimentação saudável, rica em vitaminas e proteínas e sem gorduras saturadas, são os melhores remédios, bem como preventivos, para muitos dos males que levam ao uso exagerado de drogas sistêmicas.

Terla recomenda evitar o tabagismo, o uso excessivo de telas, ar-condicionado e ventiladores direcionados aos olhos. Além disso, é importante tratar afeções oculares como blefarites e aprender o manejo diário para manter as pálpebras saudáveis.

É importante citar também a necessidade de acompanhamento médico adequado no climatério e, se possível e indicado ao caso, o uso de terapia de reposição hormonal em doses fisiológicas, sem exageros. Deve-se evitar implantes hormonais contendo estrogênio, que podem causar piora dos sintomas e não podem ser retirados uma vez implantados.

Safady acrescenta que o uso de umidificadores em casa ou no trabalho pode ser útil, aumentando a umidade do ar e melhorando os sintomas da síndrome. Em relação ao uso de óculos escuros, não há contraindicação. Os óculos protegem mais contra vento ou poeira, mas não proporcionam nenhuma vantagem terapêutica. A pessoa pode usar óculos escuros se a incidência de luz incomodar.

Confira dicas de prevenção

Evite o tabagismo: o fumo pode agravar os sintomas do olho seco;

Controle o uso de telas: o uso excessivo de dispositivos digitais pode causar evaporação da lágrima;

Cuidado com o ar-condicionado e ventiladores: evite direcioná-los para os olhos, pois podem contribuir para a evaporação das lágrimas;

Trate as afeções oculares: condições como blefarites devem ser tratadas para evitar o agravamento dos sintomas do olho seco;

Mantenha as pálpebras saudáveis: aprenda o manejo diário para manter as pálpebras limpas e saudáveis;

Acompanhamento médico no climatério: é importante ter um acompanhamento médico adequado durante essa fase da vida da mulher;

Terapia de reposição hormonal: se indicado pelo médico, o uso de terapia de reposição hormonal em doses fisiológicas pode ser benéfico;

Evite implantes hormonais contendo estrogênio: esses implantes podem causar piora dos sintomas e não podem ser retirados uma vez implantados;

Pratique atividade física: a atividade física regular pode ajudar a manter a saúde geral e prevenir condições que podem levar ao olho seco;

Alimentação saudável: uma dieta rica em vitaminas e proteínas, sem gorduras saturadas, pode ajudar a prevenir muitos dos males que levam ao uso exagerado de drogas sistêmicas;

Faça revisões oftalmológicas de rotina: isso permite tratar os sintomas antes que se manifestem, evitando que a saúde ocular seja afetada.

Por: Lisiane Mossmann Correio do Povo 


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