A importância de saber partilhar – Voz da Diocese
Minha saudação a todos os irmãos e
irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Uma saudação especial aos agricultores,
motoristas, aos idosos e avós neste dia a eles dedicado. Minha oração, minha
prece em favor de todos e meu abraço fraterno. A Liturgia da Palavra deste
domingo faz refletir sobre o valor da partilha, aspecto de fundamental
importância na vida das pessoas, das famílias e da sociedade como um todo.
Predomina na sociedade atual o espírito individualista, sendo que cada um vai a
busca do que interessa a si. É importante saber partilhar para mudar esta
realidade.
Caríssimos irmãos e irmãs. A Primeira Leitura
deste domingo é tomada do Segundo Livro de Reis (4,42-44). O texto relata que
um homem levou ao profeta Eliseu vinte pães de cevada e de trigo, produzidos
com os primeiros frutos da terra, isto é, as primícias. As primícias eram
oferecidas a Deus como gesto de reconhecimento pelos benefícios concedidos. Ao
receber os pães, Eliseu pediu que os mesmos fossem doados ao povo. Seu servo
questionou-o então dizendo-lhe: “Como vou distribuir tão pouco para cem
pessoas” (2Rs 4,43)? Eliseu respondeu-lhe: “Dá ao povo para que coma; pois, diz
o Senhor, ‘Comerão e ainda sobrará’. Ele distribuiu e ainda sobrou” (2Rs 4,43).
A lição que fica deste texto é a de não ter medo de partilhar. Muitos acham que
não vale a pena tentar. Eliseu, o homem de Deus, ensina que os bens da criação
são para todos. A lição da partilha é um dos grandes desafios de nosso tempo.
Caríssimos! O Evangelho deste domingo
(Jo 6,1-15) vai na mesma linha da leitura do Livro de Reis. Assim como o profeta
Eliseu, também Jesus está preocupado com o povo em suas necessidades. No
capítulo 6 do Evangelho de João, Jesus está na Galileia, região interiorana, ao
Norte da Palestina, terra de gente pobre e explorada pela capital, Jerusalém. A
Páscoa dos judeus era sempre celebrada em Jerusalém. Era uma festa da capital e
estava próxima. Para o Evangelho de João, com a presença de Jesus na Galileia,
o povo pobre de lá não precisaria mais ir celebrar a Páscoa em Jerusalém. O
projeto de Jesus era vida nova para aquele povo.
O Evangelho diz que uma grande multidão
seguia Jesus, pois via os sinais que ele realizava em favor dos doentes. Jesus,
com os seus discípulos, subiu ao monte e sentou-se. Ao avistar uma grande
multidão que vinha ao seu encontro, Jesus se preocupou com a fome daquele povo.
Sua conversa com os discípulos foi de como resolver o problema da alimentação.
E para Jesus, a solução não estava na lógica do mercado, que implicava em
comprar. Por isso, para questionar o modo de pensar dos discípulos, Jesus
perguntou a Filipe a partir da forma de pensar deles: “Onde vamos comprar pão
para que eles possam comer” (Jo 6,5)? A resposta de Filipe é dada
imediatamente: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de
pão para cada um” (Jo 6,7).
Jesus, ao invés, propõe um caminho
alternativo. André, um dos discípulos, disse: “Está aqui um menino com cinco
pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente” (Jo 6,9)?
Quando há sensibilidade, as coisas começam a tomar um rumo diferente. O menino
lembra os pequenos da sociedade. Estes se dispõem a oferecer o que eles têm. Os
cinco pães e os dois peixes não devem ser tomados numericamente, mas
simbolicamente. Eles somam sete, número que significa plenitude. Havia alimento
para todos, porém deveria ser partilhado.
Jesus pediu para a multidão sentar-se.
Só pessoas livres sentavam para tomar refeição. Os escravos não sentavam. Jesus
propôs uma nova organização. Depois “tomou o pão, deu graças e distribuiu-o ao
povo” (Jo 6,11). Dar graças significa reconhecer que os bens da criação
pertencem a Deus. Jesus agradeceu a Deus e não ao menino, pois tudo vem de
Deus, e o que vem de Deus é para todos. Depois distribuiu a todos e “todos
ficaram satisfeitos”. Para Jesus a solução está mais próxima do que imaginamos!
A questão é optar pela prática da partilha. Quando as pessoas são sensíveis e
agem com liberdade, humanidade e maturidade, partilham, e o pouco se torna
muito e até sobra. Essa prática é o grande desafio para cada pessoa e para a
sociedade atual.
Prezados
irmãos e irmãs. Aprendamos com Jesus a lógica da partilha a fim de vencermos a
prática individualista presente em nossa sociedade hodierna. Quem segue Jesus e
acolhe seus ensinamentos, compreende a importância de saber partilhar e
reconhece que somos todos irmãos e irmãs.
Deus abençoe a todos e bom domingo!
Por: Dom Adimir Antonio Mazali -Bispo
Diocesano de Erechim – RS