Após polêmica com compras do governo, Portal da Transparência fica fora do ar
O Portal da Transparência do
governo federal, meio pelo qual a administração presta contas dos gastos
públicos, saiu do ar na noite dessa terça-feira, e permanecia sem acesso até o
início da manhã desta quarta-feira. Mas já estava no ar por volta das 8h30,
horário de publicação desta matéria. O portal se tornou inacessível após os
gastos do Executivo com alimentos - incluindo os R$ 15 milhões pagos em leite
condensado - virarem centro do debate público.
Os gastos alimentícios do
governo federal somaram mais de R$ 1,8 bilhão em 2020. Além dos R$ 15 milhões
gastos com leite condensado, R$ 2,2 milhões pagos em chicletes e R$ 32,7
milhões em pizza e refrigerante. O total gasto em alimentos em 2020 é 20% maior
que em 2019.
Os altos valores das compras
do Executivo entraram na mira da oposição. Parlamentares formalizaram uma
representação no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo a abertura de
investigação sobre as compras do Executivo. Um documento protocolado pelo
senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e os deputados federais Tabata Amaral
(PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) argumenta que o aumento das despesas fere o
princípio da moralidade administrativa.
"Em meio a uma grave
crise econômica e sanitária, o aumento de gastos é absolutamente preocupante,
tanto pelo acréscimo de despesas como pelo caráter supérfluo de muitos dos
gêneros alimentícios mencionados", diz um trecho da representação.
Representantes do PSOL, o
deputado David Miranda (RJ) e as deputadas Fernanda Melchionna (RS), Sâmia
Bomfim (SP) e Vivi Reis (PA) protocolaram uma ação para que o procurador-geral
da República, Augusto Aras, abra investigação sobre os gastos de R$ 1,8 bilhão.
Governo
gastou mais com alimentos que com Inpe e ICMBio
Algumas comparações mostram o
tamanho do gasto do governo federal com alimentos. Apenas o montante pago pelo
leite condensado é cinco vezes mais que tudo que o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) recebeu para fazer o monitoramento por satélite de
toda a Amazônia, Pantanal e demais regiões do País - R$ 3,2 milhões no mesmo
período, segundo dados levantados pela consultoria Rubrica.
Nos últimos dois anos, o Inpe
- principal órgão federal responsável pelas pesquisas espaciais e monitoramento
-, o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) tiveram seus
orçamentos reduzidos, o que comprometeu a capacidade de o governo realizar
ações estruturais de proteção, fiscalização e combate do desmatamento nas
florestas nacionais - a Amazônia registrou volume recorde de queimadas no ano
passado.