Maioria da 2ª Turma do STF garante a Lula acesso a mensagens da Lava Jato
Material pode contribuir na
anulação de processos que o ex-presidente enfrenta na justiça
09/02/2021
| 17:49
AE
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou na tarde desta terça-feira o julgamento de um recurso contra a decisão do ministro Ricardo Lewandowski que garantiu à defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acesso à íntegra do material apreendido na Operação Spoofing - investigação que mirou grupo de hackers que invadiu celulares de autoridades, atingindo o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e procuradores da força-tarefa da Lava Jato.
O objetivo do petista é fazer
um pente-fino nas mensagens para tentar reforçar as acusações de que o ex-juiz
federal da Lava Jato o encarava como um "inimigo" ao condená-lo a
nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O
resultado do julgamento de hoje, portanto, pode pavimentar o caminho para a
defesa de Lula reforçar as críticas à atuação de Moro na Operação Lava Jato e
tentar derrubar, em outro julgamento, a condenação que lhe foi imposta no
processo do triplex do Guarujá
Um grupo de sete procuradores,
capitaneado pelo ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba,
Deltan Dallagnol, entrou com recurso no Supremo contra a decisão de Lewandowski
que deu aval ao compartilhamento das mensagens da "Vaza Jato" com
Lula. "O ex-presidente Lula não foi vítima (da Operação Spoofing), o
aparelho dele não foi hackeado. A ele falta, no nosso entendimento, o interesse
de ter acesso a esse material", disse o advogado Marcelo Knopfelmacher,
que defende o grupo.
A defesa dos procuradores pediu ao STF que seja revogada a decisão de Lewandowski ou para que Lula seja obrigado a devolver as mensagens já obtidas. Também querem que o STF impeça o ex-presidente de usar o conteúdo da Vaza Jato "para qualquer finalidade que seja, inclusive defesas judiciais".
"No recesso, às vésperas
do Natal, quando se requer apenas medidas de emergência, surge o advogado (de
Lula) com petição pleiteando compartilhamento da Spoofing, dados esses que nada
tinham a ver com a causa inicial da reclamação", criticou a
subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio Marques, ao defender a derrubada
da decisão de Lewandowski.
"O Ministério Público
entende que o que aconteceu nesses autos é de extrema gravidade. Nunca vi uma
situação dessa magnitude. O ex-presidente tem a seu controle materiais
relativos a opositores políticos, que envolve dezenas de pessoas. A História
julgará certamente o que está acontecendo nesses autos", acrescentou a
subprocuradora.
Acesso
No mês passado, Lewandowski
determinou que a 10ª Vara Federal Criminal do DF compartilhasse com a defesa de
Lula, em um prazo de até dez dias, as mensagens que "lhe digam respeito,
direta ou indiretamente", bem assim as que tenham relação com investigações
e ações penais contra ele movidas na Justiça Federal de Curitiba ou
"qualquer outra jurisdição".
Na decisão de dezembro, o
ministro do Supremo indicou ainda que os arquivos da Spoofing somam cerca de 7
TB de memória, 'envolvendo inclusive terceiras pessoas'. Nessa linha, o
magistrado reforçou na ocasião que os dados e informações relacionados a tais
pessoas "deverão permanecer sob rigoroso sigilo".
A defesa de Lula, no entanto,
alegou a Lewandowski que aquela decisão não foi integralmente cumprida, o que
levou o ministro a ampliar o acesso do petista às informações obtidas na
investigação.
"Não estamos tratando de
conversas pessoais, familiares, entre amigos, mas de conversas entre agentes
públicos que ocorreram em aparelhos funcionais e que dizem respeito a processos
que correm na Justiça brasileira. Estamos falando aqui da prática de atos
processuais clandestinos para esconder relações espúrias. Tudo acontecia fora
dos canais oficiais", afirmou na sessão desta terça-feira o advogado
Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula.
"Esse material não diz
respeito à intimidade de nenhum procurador, diz respeito a um grande escândalo
que está ocorrendo no sistema de Justiça do nosso País", acrescentou
Martins.