Nova cepa do coronavírus se espalha pelo país e cientistas temem terceira onda
Tire as principais dúvidas sobre a variante de Manaus, que pode aumentar velocidade da pandemia no Brasil
RIO e SÃO PAULO — Já somam, de
acordo com a Secretaria estadual de Saúde, 25 os casos de Covid-19 no estado de
São Paulo provocados pela variante do coronavírus inicialmente identificada em
Manaus. Desses, 16 são de pessoas que não estiveram no Amazonas nem em contato
com quem tenha viajado pela região. Ou seja, a linhagem P1 está produzindo em
número significativo infecções autóctones, que ocorrem sem “importação”.
O Ministério da Saúde informa
que, além de Amazonas e São Paulo, essa mutação do vírus já atinge pelo menos
Ceará, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Roraima e Santa
Catarina. E, segundo autoridades de saúde locais, há registros na Bahia e houve
um episódio autóctone registrado no Rio Grande do Sul.
O avanço da P1 pelo país é
preocupante, pois, segundo cientistas, ela demonstra ser mais transmissível. O
principal freio seria a vacinação em massa. Mas a campanha nacional de
imunização sofre com a escassez de vacinas (leia mais na página 9).
A própria eficácia dos
imunizantes é outra incógnita. Não há estudos que indiquem o grau de proteção
da CoronaVac e da vacina de Oxford/AstraZeneca contra essa cepa. O Instituto
Butantan informa que testes já estão em curso e devem ser concluídos nas
próximas semanas sobre a vacina chinesa. A AstraZeneca, parceira de Oxford e da
Fiocruz, também iniciou estudos.
Para tentar conter a
propagação, Araraquara, que concentra 12 dos 25 casos de São Paulo — os demais
estão na capital (9), em Jaú (3) e em Águas de Lindoia (1) —, entrou ontem em
lockdown por 15 dias.
Também para barrar as
variantes (incluindo a britânica e a sul-africana), o Centro Europeu de
Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) emitiu um alerta recomendando medidas de
contenção como toques de recolher e lockdown.
A reportagem procurou o
Ministério da Saúde para entender a estratégia federal de contenção da nova
cepa, sem retorno. E a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não
respondeu se adotaria medida similar à da reguladora da União Europeia, que
agilizará a liberação de vacinas eficazes contra novas mutações.
A
variante é mais transmissível? É mais letal?
Estudos epidemiológicos podem
demonstrar potencial de contágio
As mutações afetam a proteína
S, que é determinante na propagação do vírus. Por isso, e pelo pico de doentes
observados em Manaus, cientistas acreditam que a variante seja sim mais
transmissível. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou, em audiência no
Senado, que “análises indicam que ela seja três vezes mais contagiosa",
mas não informou a estratégia da pasta para evitar a disseminação da cepa.
Ainda não se sabe se ela é mais letal. “Precisamos de estudos epidemiológicos e
clínicos melhores”, explica Ester Sabino, da USP, que lidera sequenciamentos
genéticos do vírus.
Giuliana
de Toledo e Johanns Eller
16/02/2021
- 04:30 / Atualizado em 16/02/2021 - 08:25