Voz da Diocese (28/02/2021) TRANSFIGURAR-SE EM CRISTO
Prezados irmãos e irmãs que
nos acompanham na Voz da Diocese, nossa saudação e nossa estima, na alegria de
nosso ano do Jubileu de Ouro: “Diocese de Erexim: 50 anos a serviço da fé e da
vida”. “Caminha conosco, Senhor”!
Estamos no 2º Domingo da
quaresma, um tempo propício, importante em que nós aprofundamos a nossa
espiritualidade, o nosso encontro com Deus. É um tempo em que somos chamados a
dialogar um pouco mais com Deus. Não que ao longo do ano não devamos fazer isso,
pois sempre devemos viver na oração, no diálogo com Deus. A oração é um diálogo
com Ele. A oração é elevar o coração e a mente a Deus. Falar com Deus, ouvir
Deus. Mas se devemos fazer isso ao longo do ano, mais ainda neste tempo da
quaresma que é o tempo em que a Igreja nos chama a atenção para coisas mais
importantes e que nos alimentam e nos preparam para celebrar a centralidade de
nossa fé – a paixão, morte e ressurreição do Senhor. E por que não lembrar
ainda a realidade dolorosa da pandemia que nos assusta, nos causa medo e
insegurança? É preciso rezar e confiar em Deus.
A liturgia deste domingo tem
como centro de reflexão o Evangelho de Marcos que apresenta a passagem da
Transfiguração de Jesus. “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou
sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante
deles”. Jesus é a perfeita revelação de Deus, reforçada na voz que vem da
nuvem: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz! ” Compreendemos que o
caminho da quaresma para a Páscoa é um caminho de transfiguração; é um caminho
de mudança, um caminho de transformação.
Mas como isso acontece de modo
mais profundo? A primeira leitura nos responde apresentando como Abraão viveu
seu relacionamento com Deus. Foi colocado à prova, mas manteve-se fiel, não
colocou limites ou barreiras na relação com Deus, a ponto de quase sacrificar
seu filho Isaac, se não fosse a interferência de Deus, para demonstrar sua
fidelidade à vontade de Deus. Abraão é o homem da fé e por causa de sua fidelidade
a isso, Deus faz uma aliança prometendo-lhe uma grande descendência. “Juro por
mim mesmo – oráculo do Senhor -, uma vez que agiste deste modo e não me
recusaste teu filho único, eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua
descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar”. Pela
obediência de Abraão, todas as nações da terra foram abençoadas.
Aprendemos a renovar a fé em
Deus, o espírito do Batismo com o qual Deus nos cumulou com sua graça e ao qual
somos chamados a viver a fidelidade de aliança, de reconhecermos Deus como pai
e nos reconhecermos como filhos, amando e deixando-nos amar por Ele.
A 2ª leitura da Carta de São
Paulo aos Romanos renova e fortalece nossa confiança neste amor de Deus, quando
nos diz: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? ” Anima-nos a viver o
seguimento a Cristo sem medo, sendo seus imitadores, como ele o é de Cristo.
Com o seguimento nos deixamos
transformar, como os discípulos no Monte Tabor, querendo permanecer com Ele:
“Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para
Moisés e outra para Elias”. A revelação de Jesus causa alegria que transforma
aqueles que o seguem.
Caríssimos: Se o contemplamos
na cruz o rosto desfigurado de Jesus, o Evangelho deste domingo nos mostra que
é um rosto que se transfigura na glória, na ressurreição. Se tivermos medo do
rosto desfigurado na cruz, a visão que a transfiguração nos proporciona nos
anima; encoraja-nos, e mesmo que tenhamos que passar pela desfiguração da cruz
por sermos fiéis a Cristo, saberemos que o prêmio para isso é a certeza da
transfiguração. Se vivemos a fé e o seguimento a Cristo sendo fiéis a Ele,
caminhamos para a cruz sem medo. Ela será a porta para a ressurreição como foi
para Cristo.
Se a vida cristã nos coloca
diante de situações que causam medo, contemplar o Cristo transfigurado nos dá a
coragem e a alegria de que não vivemos em vão o seguimento. Para que isso se
realize em nós cada dia é preciso ter a consciência que o seguimento a Cristo
tem como motivação primeira o desejo de amar e de ser amado.
Não fiquemos acomodados, mas
que este tempo de quaresma renove em nós o compromisso de fidelidade a Deus
como fez Abraão, que perseveremos no seguimento a Cristo, e fortaleça em nós o
desejo de transformarmos a realidade que nos cerca, a iniciar por uma
transformação pessoal, pois Deus está sempre ao nosso lado e em nosso favor. Em
Cristo, deixemo-nos transfigurar pelo seu amor para o espírito de vida nova na
Páscoa da Ressurreição. Amém!
Dom Adimir Antonio Mazali -
Bispo Diocesano de Erexim – RS