PRESIDENTE JAIR BOLSONARO APRESENTA PEDIDO DE IMPEACHMENT DO MINISTRO DO STF ALEXANDRE DE MORAES

 Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/


Documento foi entregue nesta sexta-feira ao chefe de gabinete de Rodrigo Pacheco


BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro apresentou ao Senado nesta sexta-feira o pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O documento, assinado pelo presidente foi recebido pelo chefe de gabinete do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O presidente do Senado é o responsável por decidir se abre ou não o processo de afastamento.

Na véspera, auxiliares do presidente ainda tentavam convencê-lo a desistir da iniciativa, que provocou uma nova crise entre os Poderes, mas ele estava irredutível. O texto foi preparado pela Advocacia-Geral da União  (AGU). O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi um dos aliados a tentar demovê-lo da ideia, mas as tentativas não deram certo.

O texto foi preparado ao longo da semana com a ajuda de diversos assessores jurídicos do presidente e o advogado-geral da União, Bruno Bianco. O documento, entregue em mãos por um servidor da Presidência, tem apenas a assinatura do presidente Bolsonaro com firma reconhecida.

Renan Calheiros, relator da CPI da Covid, classificou o movimento de Bolsonaro como 'ataque a independência dos Poderes':

— É um único e exemplar ataque à independência dos Poderes. É a primeira vez que ocorre um absurdo desses. Um ataque frontal à independência dos Poderes. Um pedido de impeachment de ministro pessoal, assinado pelo presidente da República, o chefe do Executivo!Na peça, Bolsonaro escreve em primeira pessoa e afirma que, como presidente, é alvo de críticas.

Na peça, Bolsonaro escreve em primeira pessoa e afirma que, como presidente, é alvo de críticas.

“Entendo que os membros do Poderes devam participar ativamente do debate político e tolerar críticas, ainda que duras e incomodas. Eu, como presidente da República, sou diariamente ofendido nas redes sociais, sofro ameaças à minha integridade física o tempo todo e, como regra, tolero esses abusos por compreender que minha posição, como agente político central do Estado brasileiro, está sujeita a tais intempéries.

Em seguida, ele argumenta que, da mesma forma, os membros dos demais poderes, inclusive dos tribunais superiores, também devem “submeter-se ao excretório público e ao debate político”.

“Nota-se que o judiciário brasileiro, com fundamento nos princípios constitucionais, tem ocupado um verdadeiro espaço político no cotidiano do país”.

Bolsonaro também afirmou que o Judiciário se tornou um “ator político”.

Segundo aliados do presidente, Bolsonaro quer manter a palavra com a militância que faz ataques ao STF.  Segundo um importante interlocutor do Congresso, o presidente quer ficar com o argumento de que fez tudo que estava ao seu alcance, mas que o processo não avançou por inércia do presidente do Senado.

Pacheco já sinalizou que o pedido de Bolsonaro deverá ficar parado em sua gaveta. Na terça-feira, Pacheco disse que o processo de impeachment de ministros do STF “não é recomendável.”

Em outra frente contra o Supremo, o presidente entrou, na quinta-feira, com uma ação no próprio tribunalpara suspender um artigo do regimento interno da Corte que permite a abertura de investigações de ofício, ou seja, sem passar pela Procuradoria-Geral da República (PGR), como é o caso do inquérito das fake news.

A medida pede que o artigo 43 do regimento do Supremo seja suspenso liminarmente até julgamento do tema pelo STF. A Advocacia-Geral da União argumenta que a maneira como o artigo tem sido usado pelos ministros fere " preceitos fundamentais" da Constituição e ameaça "os direitos fundamentais dos acusados nos procedimentos inquisitórios dele derivados".

Jussara Soares e Julia Lindner  - O GLOBO

20/08/2021 - 18:08 / Atualizado em 20/08/2021 - 18:57

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