Agricultura confirma dois casos de vaca louca e suspende exportações de carne bovina para a China
(Não há risco para a saúde humana, afirma governo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo/22-12-2020)
Casos, considerados atípicos,
foram registrados em frigoríficos em Mato Grosso e Minas Gerais
O Ministério da Agricultura
confirmou neste sábado a ocorrência de dois casos atípicos de Encefalopatia
Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como a doença da vaca louca. Como
consequência, o governo brasileiro decidiu suspender, temporariamente, as
exportações de carne bovina para a China.
Os casos de vaca louca foram
confirmados em frigoríficos de Nova Canaã do Norte (MT) e de Belo Horizonte.
“Todas as ações sanitárias de
mitigação de risco foram concluídas antes mesmo da emissão do resultado final
pelo laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em
Alberta, no Canadá. Portanto, não há risco para a saúde humana e animal”, diz a
nota da pasta.
Estes são o quarto e quinto
casos de vaca louca atípica registrados em mais de 23 anos de vigilância para a
doença. O Brasil nunca registrou a ocorrência de casos de vaca louca clássica,
segundo a Agricultura.
Os casos de vaca louca atípica
ocorrem por causa de uma mutação num único animal. Já os casos clássicos, que é
quando o animal é contaminado por causa de sua alimentação, poderiam afetar
mais de um bovino por vez.
O ministério informou que os
dois casos de vaca louca atípica — um em cada estabelecimento — foram
detectados durante a inspeção ante-mortem. Trata-se de vacas que apresentavam
idade avançada e que estavam em decúbito nos currais.
Após a confirmação, o Brasil
notificou oficialmente à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), conforme preveem
as normas internacionais.
No caso da China, em
cumprimento ao protocolo sanitário firmado entre o país e o Brasil, as
exportações ficam suspensas temporariamente as exportações de carne bovina. A
medida, que passa a valer a partir deste sábado, se dará até que as autoridades
chinesas concluam a avaliação das informações já repassadas sobre os casos.
Neste ano, o Brasil já
exportou US$ 3,545 bilhões em carne bovina fresca, refrigerada ou congelada
para a China. A suspensão das exportações para a China, um dos principais
parceiros comerciais do Brasil, ocorre num momento em que os produtos
brasileiros passam por um maior escrutínio por conta do alto número de
infecções por Covid-19 no país.
O Ministério da Agricultura
afirma que, por serem casos atípicos, o Brasil mantém sua classificação como
país de risco insignificante para a doença, não justificando qualquer impacto
no comércio de animais e seus produtos e subprodutos.
Como é a doença
Doença fatal, a vaca louca
acomete bovinos adultos de idade mais avançada, provocando a degeneração do
sistema nervoso. Como consequência, uma vaca se torna agressiva.
A encefalopatia espongiforme
bovina, nome científico da doença, é gerada por uma proteína infecciosa já é
presente no cérebro de vários mamíferos naturalmente. Quando essa proteína se
multiplica rapidamente, ela mata os neurônios e no lugar ficam buracos brancos
no cérebro
Existem duas formas de ocorrer
a doença. Na forma atípica, que foram os casos registrados no Brasil, a
proteína sofre uma mutação.
O outro caso é uma
contaminação por meio do consumo de rações feitas com proteína animal
contaminada, como por exemplo, farinha de carne e ossos de outras espécies. No
Brasil, é proibido o uso deste tipo de ingrediente na fabricação de ração para
bovinos.
Não há indícios de que uma
vaca transmita a doença para a outra. Mas, caso ela seja diagnosticada com o mal,
o produtor deve colocá-la para o abate e incinerar o corpo.
A doeça ficou conhecida no
mundo após o primeiro grande surto, no Reino Unido, entre 1992 e 1993. Na
época, foram confirmados 100 mil casos no país. Mais de 180 mil cabeças de gado
foram sido afetadas, segundo as estimativas da época, e mais de 4 milhões de
animais foram sacrificados. Durante este período, o consumo de carne bovina
chegou a ser proibido no país.
Impactos
Nesta sexta-feira, a suspeita
de vaca louca já havia acentuado a queda da atividade dos frigoríficos
brasileiros, de acordo com a associação que representa o setor.
"A notícia da vaca louca
veio neste momento em que a ociosidade nos frigoríficos que trabalham somente
com o mercado interno é bastante elevada e serviu para diminuir ainda mais o
negócio de aquisição de bois diariamente", disse a Associação Brasileira
de Frigoríficos (Abrafrigo) em nota divulgada na sexta-feira.
“Tudo isso criou uma situação
de compasso de espera por parte das empresas que naturalmente iriam parar suas
atividades pelo feriado de 7 de setembro, aguardando o desfecho deste caso para
a quarta-feira”, afirmou a Abrafrigo.
Texto: Manoel Ventura agência
O Globo