Agronegócio deve ser, mais uma vez, o único motor da economia em 2022
O agronegócio e setores
correlatos, como a indústria de tratores e equipamentos, os serviços
agropecuários e a exportação de matérias-primas agropecuárias, serão
praticamente os únicos motores com que a economia brasileira poderá contar em
2022. É consenso entre economistas que o avanço da cadeia da agricultura e da
pecuária, projetado entre 3,5% e 5%, deve evitar um desempenho ainda pior do
Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.
Por enquanto o mercado espera
um aumento do PIB de 0,5% para 2022, segundo o último Boletim Focus do Banco
Central (BC). É um tombo em relação ao crescimento previsto para 2021, de 4,5%,
e um resultado insuficiente para dar conta do crescimento da população, de
cerca de 0,7%. “Existem dois mundos na economia neste momento: 30% de segmentos
devem crescer acima do PIB e o restante será de contração”, afirma Silvia
Matos, coordenadora do Boletim Macro FGV/Ibre.
A economista projeta avanço de
0,7% do PIB como um todo para 2022. Deste resultado, as atividades sensíveis ao
aperto da política monetária para segurar a inflação, como comércio, indústria,
serviços e o consumo das famílias, o chamado “PIB cíclico”, que representa 65%
do total, devem recuar 0,6%. Para o restante, que inclui agronegócio, indústria
extrativa, aluguéis e administração pública, é esperado crescimento de 1,3%.
Mais pessimista, o
economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, acredita que o PIB ficará
estagnado em 2022, graças à inflação de mais de 10% em 2021 e à alta dos juros.
“O potencial de crescimento do consumo será baixo, e o agronegócio e as
exportações relacionadas serão o elemento central da atividade em 2022”, prevê.
Ele lembra que a perspectiva é de alta de 15% na produção agrícola.
O professor de economia do
Insper Otto Nogami, que tem no radar um recuo de 0,2% para o PIB neste ano,
acredita que a queda poderia ser mais acentuada se não tivesse a contribuição
do agronegócio exportador.
Essa diferença entre a
realidade difícil de vários setores e a velocidade do agronegócio é refletida
na atividade do agricultor e agrônomo Fred Frand Frandsen, de 35 anos. Ele
cultiva cerca de 200 hectares com soja na safra de verão e a mesma área com
milho na safrinha, em Palmital (SP), na divisa com o Paraná. Ele não para de
investir. Em 2018, comprou um trator novo e, no ano seguinte, uma plantadeira.
Em 2020, trocou a colhedora por outra mais nova e comprou um trator zero.
Nesta safra, que será colhida
no fim de fevereiro, Frandsen ampliou os investimentos em 15% na comparação com
a safra anterior. A saca de soja de 60 quilos na região sai por R$ 161. “O
preço nunca esteve nesse nível: acima de R$ 150 é a primeira vez”, afirma.
A história se repete com o
agricultor e agrônomo Luís Antônio Reis, de 62 anos, que cultiva 121 hectares
em Bela Vista do Paraíso, norte do Paraná. Em 2021, ele investiu mais em
tecnologia e gastou 10% a mais do que no ano anterior. “É um processo contínuo:
estamos procurando sementes de maior potencial, adubo de qualidade, com
micronutrientes, formulações melhores”, diz.
No entanto, até mesmo no
cenário positivo esperado para o agronegócio há espaço para incertezas. Para
esta safra, o risco climático ronda algumas regiões. Frandsen diz que, depois
do frio em novembro, o clima se normalizou na região. Mas as lavouras do Paraná
enfrentam problemas com a seca. “Estou preocupado com o clima.”
Reis, do Paraná, conta que
teve chuva pesada na época de plantio, seguida por um longo período de seca.
“Nos últimos dias melhorou para mim”, diz o produtor, ponderando que as chuvas
foram muito localizadas e que, de um modo geral, o norte do Paraná está
sofrendo bastante com a seca.
O produtor acredita que talvez
não consiga recuperar o estrago provocado pela falta de chuva, mas, se o clima
se regularizar, as perdas podem cessar. “Se o tempo ajudar repito o desempenho
da safra anterior, que não será a melhor, porém será uma safra boa.”
Fonte: Jornal o Sul
Foto: Comunicação Social – Sistema FAEPSENAR-PR