Azeite de oliva do RS terá selo de qualidade
A qualidade dos azeites de
oliva extravirgem produzidos em solo gaúcho será reconhecida por um selo
atribuído pelo Programa Produtos Premium, coordenado pela Secretaria de
Inovação, Ciência e Tecnologia em conjunto com as secretarias da Agricultura,
do Meio Ambiente e Infraestrutura, do Desenvolvimento Econômico e Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).
O regulamento para os
produtores de azeite de oliva se habilitarem a exibir a distinção no rótulo foi
publicado em 13 de janeiro. O lançamento do selo deve ocorrer ainda no primeiro
trimestre de 2022. A área da olivicultura é a segunda a se habilitar ao
reconhecimento. Antes, em 4 de janeiro, foi publicado o regulamento da Carne
Premium Gaúcha.
Lançado em setembro de 2020, o
Programa Produtos Premium busca valorizar e incentivar produtos de qualidade
elaborados no Rio Grande do Sul. “Essa certificação tem a ver com qualidade e
existe para mostrar que todas as etapas de produção ocorrem no Estado”, explica
Jonathan Vaz Martins Silva, da equipe do Programa Produtos Premium. Segundo
ele, a certificação analisa a qualidade sensorial do produto e é mais exigente
que as normas nacionais quanto às suas características físico-químicas.
Para adquirir a certificação,
o produtor deve ler o regulamento, preencher dois anexos e apresentar a
documentação solicitada ao Grupo Avaliador das demandas. Se aprovado, ele vai
receber um selo a ser colocado na embalagem do azeite. O processo vale apenas
para a safra vigente, sendo necessário repeti-lo a cada ano. O selo Produtos
Premium não tem as mesmas características das Indicações Geográficas,
certificações nacionais que indicam, entre outros itens, o lugar de procedência
de determinados produtos. Entre as diferenças do selo regional estão a necessidade
de comprovar a qualidade a cada colheita e a concessão anual, mais rápida.
Demanda do setor
A certificação para o azeite
de oliva surgiu a partir de uma demanda dos próprios produtores, que procuraram
a equipe do programa Produtos Premium em 2020. De acordo com Jonathan Vaz
Martins Silva, o setor buscava proteger sua produção e manter a qualidade alta
do azeite, além de evitar sua comercialização irregular, já que dados do
Ministério da Agricultura indicam que trata-se de um produto que está entre os
mais fraudados do Brasil. Assim, representados pelo Instituto Brasileiro de
Olivicultura (Ibraoliva), os produtores buscavam um modo de identificar qual
azeitona havia sido plantada e se ela havia passado pelas etapas de extração do
óleo e envasamento em solo gaúcho.
A partir daí a demanda foi
encaminhada ao Comitê Gestor do programa Produtos Premium, que aprovou a
constituição de um Grupo de Trabalho em 27 de julho de 2021. Este construiu um
regulamento, que tem como princípios a origem e exigências de qualidades, em
especial as físico-químicas e sensoriais do azeite de oliva.
Olivicultura estadual
Um dos eventos que marcou o
início do trabalho do programa Produtos Premium com a olivicultura foi o “Novos
Caminhos do Azeite de Oliva Extravirgem no Rio Grande do Sul”, ocorrido em
setembro do ano passado, na programação on-line da Expointer. Na ocasião, o
presidente do Ibraoliva, Renato Fernandes, lembrou que Rio Grande do Sul é
responsável por 70% da produção nacional de oliva e o crescimento dessa cultura
no país foi expressivo. De acordo com Fernandes, agora os produtores começam a
ter retorno sobre o investimento que fizeram.
O presidente do Ibraoliva
também destaca que o Brasil tem mais de 200 premiações em todo o mundo, pela
qualidade de seu azeite de oliva. “A responsabilidade é grande porque o
crescimento deve ser grande também”, comenta. Segundo o dirigente, há mais de 1
milhão de hectares propícios para a olivicultura.
“Não tenho dúvidas que o azeite daqui é páreo para qualquer azeite europeu”, ressalta o agrônomo Emanuel de Costa, diretor de Produção e Transformação e sócio da Azeite Sabiá, empresa que está preparando sua primeira planta de produção no Rio Grande do Sul. “Temos boas máquinas e especialistas que nos acompanham anualmente”, prossegue. “Sem sombra de dúvidas, (a olivicultura) está consolidada e agora temos que ter produção constante todo ano, esse é o desafio.”
Óleo elaborado com azeitonas cultivadas no Estado já conquistou centenas de prêmios internacionais e chega mais fresco e com mais propriedades antioxidantes ao consumidor. Foto: Fernando Dias / Seapdr / Divulgação / CP
Para Costa, a certificação do
Produtos Premium é importante para desenvolver o gosto dos brasileiros pelo
azeite de oliva local. “Esse cultivo é muito recente no país; as pessoas estão
começando a apreciar (o produto)”, comenta. O diretor lembra que ainda são
raros os painéis sensoriais (grupos de pessoas que, dentro de determinados
critérios, avaliam o azeite) aptos a qualificar o óleo de oliva. Como esta análise
é indispensável para a atribuição do selo, o Ibraoliva está montando um painel
de avaliação com especialistas e convidados.
A avaliação sensorial é
importante para uma classificação precisa do azeite extravirgem, aquele feito
somente de azeitonas prensadas a frio, com características químicas e
sensoriais distintas. Segundo Costa, para que isso seja determinado, além de
avaliação química da acidez do azeite, é preciso que seja detectado, por
exemplo, que não há ranço, cheiro de metal, borra ou fermentações.
Safra é promissora e será
aberta em 4 de março
Colheita já está em andamento,
mas abertura oficial ocorre no início do próximo mês em Viamão, em cerimônia
que mostrará aos visitantes todo o processo de elaboração do produto, com
degustação ao final
A 10ª edição da Abertura
Oficial da Colheita da Oliva ocorre no dia 4 de março na Estância das
Oliveiras, em Viamão, com início das atividades às 8h30. Depois de uma versão
restrita por causa da pandemia da Covid-19 em 2021, o evento de 2022 traz uma
programação especial com espaços para expositores de azeites, mudas, máquinas e
equipamentos para um público de convidados e outros que manifestarem interesse
em participar diretamente ao Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva),
pelo e-mail ibraoliva@ibraoliva.com.br.
A organização é do Ibraoliva,
com apoio do Governo do Estado, Prefeitura de Viamão, Secretaria da Agricultura,
Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa).
Quem estiver no local vai
poder observar o ato simbólico de colheita de olivas, acompanhar a produção do
azeite em um lagar (local onde se separa a parte líquida da parte sólida da
fruta) e, por fim, degustar o óleo. A Estância das Oliveiras, segundo o sócio
diretor Rafael Sittoni Goelzer, é projetada para que haja interação entre o
público e a olivicultura. “O nosso lagar é pedagógico”, define, explicando que
as instalações permitem que os visitantes possam ver todo o “passo a passo” da
produção do azeite.
De acordo com Goelzer, o
evento ajuda a promover o olivoturismo, proporcionando ao público uma maior
educação de paladar. “Isso foi feito com o vinho e a cerveja há anos atrás,
agora está acontecendo com o café, chocolate e com o azeite de oliva”,
exemplifica. “A gente não tinha um azeite fresco e de fácil acesso”, lembra,
referindo-se ao tempo anterior ao desenvolvimento da olivicultura no Estado. Como,
neste caso, o produto jovem é melhor, Goelzer destaca que o azeite gaúcho tem
mais qualidade e acredita que vai ganhar cada vez mais espaço à medida que o
consumidor perceber isso.
O presidente do Ibraoliva, Renato Fernandes, diz que as expectativas para a Abertura da Colheita são as melhores possíveis. “Estamos trazendo (o evento) para a Região Metropolitana (de Porto Alegre), fato inédito, para estar mais próximo do público”, ressalta, citando ainda que isso vai atrair os produtores de municípios próximos.
Intempéries que prejudicam cultivo de grãos do
Estado desde novembro ocorreram depois da fase crítica das oliveiras, que foi
em setembro, e, por isso, produtores se mostram animados com os resultados do
ciclo. Foto: Estância das Oliveiras / Divulgação / CP
Segundo Fernandes, a colheita
não foi afetada pela estiagem, pois problemas como a falta de chuva ou
precipitações demasiadas podem prejudicar as oliveiras apenas em determinados
períodos do ano. “Nós tivemos uma vantagem porque o nosso problema seria em
setembro. Como os frutos já estavam formados, não tivemos prejuízo”, afirma
Fernandes, que também relata uma expectativa de quebra de recordes para este
ano, quando o volume de litros de azeite elaborados no Estado deve superar os
202 mil de 2021, por conta da entrada de mais pomares em produção.
Quanto à qualidade das olivas,
Fernandes afirma que será alta. “Nós aqui da produção brasileira temos um
controle muito grande, desde a escolha da muda até a industrialização”,
garante. Segundo o presidente do Ibraoliva, o azeite brasileiro, que tem cerca
de 70% de seu volume produzido no Rio Grande do Sul, é mais fresco e tem mais
qualidade que os azeites importados. “O mercado já entende essa qualidade
especial do nosso azeite”, diz, convicto de que a produção nacional será
absorvida, uma vez que equivale a menos de 0,5% do consumo do Brasil, que é o
segundo maior importador de azeite de oliva do mundo.
Na Estância das Oliveiras, a
colheita teve início no dia 12 de fevereiro e vai até o final de março. No
local, existem 30 variedades diferentes de azeitonas. “No ano passado tivemos
altíssima qualidade, mas pouca quantidade. Neste ano vamos ter alta quantidade
e qualidade”, afirma o sócio diretor, Rafael Goelzer. A Estância das Oliveiras
colheu 20 toneladas de oliva no ano passado e tem a expectativa de colher entre
25 e 27 toneladas em 2022. “Nesta safra tivemos a maior floração de todos os
tempos”, observa Goelzer, ao contar que na safra do ano passado houve chuvas e
ventos fortes na época da floração, o que prejudicou a colheita. Além disso,
neste ano há mais oliveiras maduras o suficiente para dar frutos.
Nos últimos anos, o cultivo de oliveiras no Rio Grande do Sul cresceu rapidamente, passando de 80 hectares em 2005 para aproximadamente 10 mil hectares em 2021. A expectativa do setor é de atingir 13 mil hectares nos próximos três anos. “Os gaúchos unem um trabalho de qualidade com o compartilhamento de experiência com os turistas. Unem a técnica de mais alto nível com a possibilidade de mostrar para as pessoas a produção real”, afirma o sócio diretor da Estância das Oliveiras.
Crédito: Correio do Povo Camila Pessoa*
*Sob supervisão de Elder Ogliari