Banco Central anuncia aumento da Selic para 11,75%
(O
novo aumento da taxa ficará vigente por ao menos 45 dias | Foto: Antonio Cruz /
Agência Brasil / CP memória)
Com a guerra na Ucrânia e a pressão da alta dos preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) definiu nesta quarta-feira o novo patamar dos juros básicos da economia brasileira. No nono aumento seguido, a taxa Selic subiu 1 ponto percentual, passando dos atuais 10,75% para 11,75% ao ano, o maior nível desde fevereiro de 2017.
"No cenário externo, o
ambiente se deteriorou substancialmente. O conflito entre Rússia e Ucrânia
levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da
incerteza em torno do cenário econômico mundial. Em particular, o choque de
oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões
inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto
avançadas", afirmou o Banco Central em nota após a reunião do Copom.
O resultado já era esperado
pelo mercado. Isso porque a inflação do país segue alta e dá sinais de que não
está sofrendo o impacto dos juros altos, que deveriam tirar recursos do mercado
e, assim, baixar os preços.
Além disso, a invasão russa da
Ucrânia pressiona a inflação no mundo, refletindo no Brasil. O Banco Central
dos Estados Unidos também decidiu nesta quarta-feira aumentar a taxa de juros
pela primeira vez desde 2018. A guerra impacta a oferta de commodities,
principalmente aquelas em que a Rússia tem peso, como petróleo, trigo,
fertilizantes e minerais.
"A alta da Selic é um
remédio para controlar o aumento dos preços, mas não é o melhor remédio para a
nossa inflação. A taxa é para controlar a demanda e o nosso problema é falta de
oferta. Mas é o remédio que nós temos e tem que ser aplicado mesmo assim",
avalia Murillo Torelli, professor de contabilidade financeira do Centro de
Ciências Sociais e Aplicadas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Torelli avalia que é uma
decisão difícil por causa da instabilidade muito grande, com a alta dos que
impactam a cadeia distributiva. "A dose desse remédio não pode ser muito
forte porque mata o paciente. Começa a estagnar a economia, o crédito fica mais
caro e perde o incentivo para investir no setor produtivo", explica
Torelli.
A trajetória de alta da taxa
básica começou em março do ano passado, quando a Selic estava em 2% ao ano, o
menor patamar da história, após uma série de reduções iniciada em 2016. Para o
fim de 2022, a projeção do mercado é que a taxa alcance 12,25% ao ano. Mas já
há analistas que apostam em 13,25%.
Essa é a segunda reunião do
Copom em 2022. Na primeira, no início de fevereiro, a taxa subiu 1,5 ponto
percentual. Em nota, o Banco Central afirma que o Copom já prevê outro ajuste
da mesma magnitude para a próxima reunião. "O Copom enfatiza que os passos
futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a
convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade
econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para
o horizonte relevante da política monetária", afirma o texto.
O novo aumento da taxa ficará
vigente por ao menos 45 dias, quando os diretores do BC voltam a se encontrar
para discutir novamente a conjuntura econômica nacional. A ata detalhada com as
razões que motivaram a decisão será publicada na próxima terça-feira.
Como funciona a Selic
A Selic é conhecida como taxa
básica porque é a mais baixa da economia e funciona como forma de piso para os
demais juros cobrados no mercado. A taxa é usada nos empréstimos entre bancos e
nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos
federais.
Em linhas gerais, a Selic é a
taxa que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo para
empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos. Por esse
motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à
Selic.
A taxa básica também serve
como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto
da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos
encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas
de investimento.
Quando o Copom aumenta a
Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos
preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique
mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.
Histórico
Até março do ano passado, a
taxa básica de juros vinha registrando uma série de quedas, desde julho de
2015, e uma sequência de reduções consecutivas, desde julho de 2019, chegando
ao menor patamar da história.
A alta da inflação e as incertezas da economia por causa das crises sanitárias, gerada pela pandemia de coronavírus, e da guerra entre Rússia e Ucrânia, vêm pesando na decisão do Copom de elevar sucessivamente a Selic.
Fonte: R7