UFFS inicia curso de extensão sobre agroecologia e sustentabilidade
(Foto 01: O diretor do Campus Erechim, Luís Fernando: “Nossa matriz produtiva é profundamente marcada pela desigualdade” (Créditos: Wagner Lenhardt/Divulgação/UFFS)
Agricultores
e lideranças de entidades e movimentos sociais do Alto Uruguai participam de
capacitação gratuita ofertada pela Universidade.
Na
manhã da quarta-feira (20) a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
Campus Erechim realizou o primeiro encontro do curso de extensão
“Desenvolvimento, Organização Social, Agroecologia e Sustentabilidade no Campo:
Desafios e Limites”. Gratuito, o curso é destinado à formação de lideranças
da organização sindical e popular da região do Alto Uruguai, visando
colaborar para o desenvolvimento sustentável e agroecológico do território.
Foram
ofertadas 50 vagas, preenchidas por pessoas de diferentes municípios da região.
A abertura contou com a participação de representantes de entidades parceiras
na criação do curso, como Fetraf-Sul, MAB, CAPA, Cetap, IFRS e Uergs.
Segundo
o professor Émerson Neves da Silva, a ideia da capacitação surgiu a partir das
reuniões do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Estudos Agrários, Urbanos e
Sociais (Nipeas) da UFFS - Campus Erechim.
-
Sentimos a necessidade de discutir a questão da agroecologia e o
desenvolvimento da região, reunir lideranças, pesquisadores, mais as pessoas
envolvidas em movimentos sociais, outras entidades e instituições de ensino,
pra pensar o futuro em virtude do contexto que a gente enfrenta. Aí surgiu a
ideia da construção do curso, que trabalha desde a conjuntura internacional na
agricultura, da possibilidade de desenvolvimento, até os desafios para o Alto
Uruguai gaúcho – explica Émerson, que é coordenador do Nipeas.
Um dos objetivos do curso de extensão é de desenvolver, ao final das 10 aulas programadas, algumas ações a partir da articulação com as lideranças envolvidas. Quem atua na área observa que os desafios da agricultura sustentável estão concentrados principalmente no atual modelo de produção, focado em commodities.
- É
preciso ter acesso à tecnologia, mas uma tecnologia popular, que possibilite
outras formas de desenvolvimento, que hoje é muito marcado em relação ao
mercado capitalista, que vai tirando renda do produtor rural. Precisamos pensar
em outro modelo capaz de viabilizar mais renda para as famílias, uma forma de
trabalho mais justa – destaca o professor Émerson, que ressalta ainda que, para
a realização do curso, houve um aporte de recursos de uma emenda parlamentar do
deputado Elvino Bohn Gass.
Coordenador do Centro de Promoção e Apoio da Agroecologia (CAPA) de Erechim, José Antônio Louzada também ratifica que o debate sobre o assunto precisa ser ainda mais fomentado.
(Foto 02: José Antônio Louzada: “A seca pela qual passamos é reflexo do modelo degradante de produção do agronegócio”)
- Um
dos grandes desafios para o setor da agricultura familiar e da agroecologia é
trabalhar essas temáticas no senso coletivo da sociedade. Falar de alimentação
saudável, relações de equidade de gênero e proteção ao meio ambiente. A seca
pela qual passamos é reflexo do modelo degradante de produção do agronegócio,
focado nas commodities e que contribui para as mudanças climáticas, acarretando
com isso a seca e a escassez na produção de alimentos – diz.
Colocar
o assunto na agenda pública e fomentar capacitações também são necessárias,
conforme aponta Juraci Zambon, da Fetraf:
- A
expectativa com o curso é muito grande. Formações como esta são importantes
para que a gente possa se atualizar. As coisas mudam muito rápido então é bom
participar, ainda mais em um curso tão aprimorado quanto este. Levar o
conhecimento da universidade para a população é fundamental, pois nem sempre
podemos ter acesso, ainda mais acesso gratuito – ressalta.
Egresso
do curso de Licenciatura em História e atualmente cursando Arquitetura e
Urbanismo, o acadêmico Edson Cordeiro dos Santos está atuando como bolsista de
pesquisa, e está auxiliando na organização da capacitação.
- Essa
experiência está me permitindo resgatar coisas do curso de História que eu
posso aplicar no curso de Arquitetura e Urbanismo também. Essa pesquisa está me
ajudando a resgatar a memória do que já aconteceu para poder não repetir lá na
frente. Conheci a agroecologia por meio de pesquisas pessoais. Acredito muito
na sustentabilidade e na questão dos povos originários. Fui tateando até
encontrar o grupo de agroecologia que está instalado na Universidade – conta o
aluno.
Compromisso
histórico
Durante
a abertura do curso, o diretor da UFFS – Campus Erechim, Luís Fernando Santos
Corrêa da Silva, enfatizou a importância do tema da capacitação, e que a
agroecologia e o desenvolvimento rural sustentável da região do Alto Uruguai
são compromissos históricos da Universidade.
- Vivemos em um período em que nossa matriz produtiva é profundamente marcada pela desigualdade, que surge já no meio rural de uma forma expressa a partir da divisão do território, mas também a partir de uma forma muito específica de se produzir. Cada vez menos vinculada à produção sustentável e integrada aos recursos naturais, e cada vez mais se expandindo no sentido da produção de commodities que muitas vezes não dialogam com as necessidades mais urgentes da nossa população – disse o diretor. - A UFFS é uma universidade que surge dos movimentos sociais, de uma demanda regional importante, mas com um projeto muito claro de transformação da nossa matriz produtiva e de integração de populações que historicamente estiveram fora da educação superior pública. Mas surge também com um pé na extensão. E esse é um dos grandes desafios da universidade contemporânea: a sua integração com as comunidades regionais, pensando temas que são tão caros e tão importantes para o nosso desenvolvimento, como a agroecologia e a sustentabilidade.
Wagner
Lenhardt Jornalista
Assessoria
de Comunicação (Ascom)
Universidade
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