João Doria anuncia desistência da pré-candidatura à Presidência da República
(FOTO: Doria anuncia desistência da candidatura à Presidência | Foto: Renato S. Cerqueira / FuturaPress / Estadão Conteúdo / CP Memória)
Declaração ocorre após pressão
feita por correligionários para que ex-governador desista de disputar cargo
neste ano
Em meio à pressão feita por
correligionários, o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou,
nesta segunda-feira (23), a desistência de sua pré-candidatura à Presidência da
República nas eleições deste ano.
O PSDB, MDB e Cidadania se
articulam para lançar um pré-candidato único da chamada terceira via à
Presidência da República neste ano e, recentemente, decidiram utilizar os
resultados de uma pesquisa de opinião para balizar a escolha desse nome.
O levantamento apontou que a
senadora Simone Tebet (MDB-MS) é a opção mais viável ante Doria, que se
recusava a desistir da pré-candidatura e chegou a ameaçar o caso com
judicialização. Em reunião, os presidentes dos três partidos entraram em
consenso pela provável pré-candidatura da emedebista, mas não ainda
oficializaram seu nome.
Mais cedo, Doria se reuniu com
lideranças tucanas, que tinham o objetivo de demover o paulista da ideia de se
candidatar à presidência nas eleições deste ano. Correligionários tentam
encontrar um acordo para evitar uma ruptura pública e conturbada do
ex-governador.
Em conversas reservadas,
tucanos utilizam a pesquisa encomendada pelo PSDB, MDB e Cidadania, que aponta
Tebet como a melhor opção para representar o candidato da chamada terceira via,
para argumentar que Doria deve se afastar do pleito que se avizinha.
Não houve uma proposta a
Doria. Outro argumento utilizado pelos tucanos é uma pesquisa interna, que
mostra que 56% dos brasileiros são contra a polarização e não querem votar em
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem em Jair Bolsonaro (PL), primeiro e segundo
colocado nas pesquisas, respectivamente.
O mesmo levantamento, segundo
uma fonte do partido, mostra que a terceira via só teria chances com uma
candidatura única e que a senadora seria o nome com mais possibilidade de
vitória. Tebet já disse, inclusive, que, se for escolhida, disputará a Presidência
da República mesmo sem Doria.
Doria, por sua vez, afirma que não participou dos encontros e nem sequer teve acesso à pesquisa, além de não ter sido comunicado. O tucano defendia o argumento de que foi escolhido nas prévias do PSDB, realizadas no ano passado, para concorrer à presidência e mantém-se como pré-candidato.
Leia a íntegra do discurso de
Doria
"Boa tarde a todos. Hoje
é um dia de respostas, mas também um dia de perguntas. As pessoas sempre me
perguntam por que deixei uma vida de conforto à frente das minhas empresas bem
sucedidas, para entrar na política?
Sou filho de um político
cassado pelo golpe militar de 64. Meu pai, tal como eu, começou a vida pobre,
mas lutou, trabalhou e alcançou uma vida confortável, dono de uma das maiores
agências de publicidade do Brasil. Até o dia que decidiu, inspirado por Franco
Montoro, a lutar por um Brasil melhor.
Nele, era premente e urgente a
necessidade de servir ao povo brasileiro, de combater a desigualdade e a
injustiça social. João Doria foi eleito deputado federal e, em abril de 64, foi
cassado pelo golpe militar. Perdeu seus direitos políticos, todos os seus bens
e foi obrigado a viver no exílio.
Inspirado pelos ideais e pela
coragem de meu pai, e coincidentemente também motivado por Franco Montoro,
colaborei desde cedo com a vida pública. Com Mário Covas fui Presidente da
Paulistur e Secretário de Turismo, em São Paulo. Por conta de uma gestão bem
sucedida, fui convidado a presidir a Embratur, emblematicamente criada por um
projeto de lei de autoria de meu pai.
Como militante e ativista, organizei, a pedido de Franco Montoro, o
histórico comício das Diretas Já, na praça da Sé, em 25 janeiro de 1984, aqui
em São Paulo.
Com perseverança, dedicação e
trabalho, construí uma carreira sólida
na iniciativa privada e coloquei de pé um
grupo empresarial de sucesso.
2015 marcava o auge de uma
recessão brutal que dizimou milhões de empregos, guilhotinou a renda, levou a
inflação às alturas e destruiu sonhos. Nada muito diferente do que enfrentamos
hoje. Inconformado, acompanhava as medidas econômicas equivocadas de um governo
incompetente e o desvio de dinheiro público.
2016 seguindo os passos de meu
pai, decidi disputar uma eleição. Começa aí minha saga, no meu partido. No PSDB
disputei 3 prévias: para prefeito, para governador e para presidente. As 3 únicas prévias na história do partido.
Venci as prévias em 2016. E logo depois, vencí as eleições para a prefeitura da
maior cidade do país, no primeiro turno.
Fato inédito na história política de São Paulo.
Guardo as melhores lembranças
da prefeitura. E do meu amigo Bruno Covas. Tenho orgulho de ter zerado a fila
de exames nos postos de saúde, com o inédito Corujão da Saúde. Atendemos a
população em situação de rua com os Centros de Acolhimento, recuperamos praças,
avenidas e ruas. Promovemos a maior inclusão de crianças desassistidas no
redimensionamento das creches e escolas municipais. Lançamos os programas de
concessão do Parque do Ibirapuera, do Pacaembú e do Anhembí, entre outras
conquistas importantes para a cidade.
Em 2018, novamente disputei e
fui vitorioso nas prévias do PSDB para a eleição a governador do Estado de São
Paulo. Mais uma vez, vencí as prévias e
vencí as eleições, sendo eleito governador de São Paulo.
Tenho orgulho de ter feito uma
gestão transformadora no estado, reconhecida até mesmo por adversários. Diante do desafio histórico da pandemia, me
empenhei pessoalmente para trazer ao Brasil 124 milhões de doses da vacina
contra a covid 19. Procurei fazer o
certo. Salvamos vidas e a economia. Na pandemia, São Paulo cresceu 5 vezes mais
do que o Brasil, gerando um terço de todos os novos empregos do país. Por todo o território nacional, a vacina foi
sinal de esperança, salvando milhões de brasileiros. Vencemos com a ciência, os
discursos do ódio, das fake news e o negacionismo.
Assim como, na saída da
prefeitura, quando deixei o comando da cidade nas mãos do saudoso Bruno Covas,
desta vez também, deixei o governo de São Paulo em boas mãos. Rodrigo Garcia está levando em frente um
trabalho que começou com uma equipe de craques, e que certamente lhe renderá a
vitória nas eleições deste ano. Rodrigo será, com muita justiça, reeleito
governador de São Paulo.
Em dezembro do ano passado,
mais uma vez disputei as prévias do partido para ser candidato a presidente da
república. E mais uma vez, as vencí.
Fica aqui minha gratidão aos
brasileiros da cidade de São Paulo que me deram mais de 3 milhões de votos na
prefeitura, aos quase 11 milhões de votos ao governo de São Paulo. E aos mais
de 17 mil militantes do PSDB, que me escolheram como candidato a presidente do
Brasil.
Agradeço também aos mais de
seis milhões de brasileiros que, nas pesquisas de opinião pública, já
manifestaram a intenção de votar no meu nome para presidente, antes mesmo do
começo da campanha eleitoral.
O Brasil precisa de uma
alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos. Que não querem aquele que foi envolvido em
escândalos de corrupção. E nem aquele que não deu conta de salvar vidas, não
deu conta de salvar a economia e que envergonha nosso país em todo o mundo.
Para esta missão, coloquei meu
nome à disposição do partido. Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que
não sou a escolha da cúpula do PSDB.
Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o
bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o
consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal. O PSDB saberá
tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano.
Me retiro da disputa com o
coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever
cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção. Saio com o
sentimento de gratidão e a certeza de que tudo o que fiz foi em benefício de um
ideal coletivo, em favor dos paulistanos, dos paulistas e dos brasileiros. Saio
como entrei na política: repleto de ideais, com a alma cheia de esperança e o
coração pulsante, confiante na força do povo brasileiro que têm fé na vida e em
Deus.
Peço desculpas pelos meus
erros. Se me excedí, foi por vontade de acertar. Se exagerei, foi pela pressa
em fazer com perfeição. Se acelerei foi pela urgência que as ações públicas
exigem. Os acertos foram fruto do
trabalho em equipe, da ousadia e da coragem, do propósito que sempre perseguí.
De sempre fazer bem feito o que tem que ser feito. Respeito e Trabalho. Fazer
do possível o impossível. Esse é meu mantra. Levo por onde eu for.
Agradeço a minha equipe
aguerrida, aos membros do partido que sempre me defenderam, aos que lutaram ao
meu lado, aos que foram leais e que defenderam a democracia interna do partido.
E defendem, como eu, a liberdade e a igualdade no Brasil.
Agradeço aos colaboradores,
que estiveram comigo na prefeitura e no Governo do Estado, que se empenharam
para os resultados históricos que alcançamos. Agradeço aos militantes do PSDB,
extraordinários guerreiros que nunca me abandonaram. Agradeço a Deus pela
disposição que sempre me deu, pela capacidade de trabalho, senso de justiça e
paz no coração. Agradeço igualmente à minha família, à Bia, aos meus queridos
filhos, Johnny, Felipe e Carol, ao meu querido irmão Raul e sua linda família.
Agradeço também a todos os verdadeiros amigos que sempre me apoiaram, em todas
as minhas decisões.
Por fim, relembro aqui o belo
poema atribuído a Cora Coralina: “Tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço
das minhas pernas, mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus
ombros. Mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça".
Seguirei como observador
sereno do meu País. Sempre à disposição de lutar a guerra para a qual eu for
chamado. Na vida pública ou na vida privada. Que Deus proteja o Brasil. Muito
obrigado e até breve."
Fonte: R7