Avon mergulha no universo das representantes
Com
mais de 5,6 milhões de representantes em mais de 65 países, a Avon é capaz de
chegar a praticamente todas as casas do mundo. Mas quem são essas revendedoras,
que carregam a marca consigo e fazem a interlocução direta com os clientes? No
Brasil, a Avon arregaçou as mangas para conhecê-las em profundidade, e compreender
suas motivações e anseios.
São
empreendedoras que se espalham por todo Brasil, em grandes centros ou em
cidades pequenas do interior. Com perfis e histórias diversass: mulheres e homens,
jovens e maduras, mães e filhas, nativas e imigrantes digitais. O trabalho foi
realizado junto com a Thoughtworks. Segundo Ricardo Cavalcanti, diretor-geral
da empresa no Brasil, esse tipo de trabalho segue metodologia de design e
envolve entrevistas com essas pessoas para entender os perfis que formarão as
personas.
“Personas
nada mais são do que representações que identificam elementos relevantes para a
vida daquela pessoa. Por exemplo, para identificar ‘será que aquela
representante de vendas ela usa mais o celular? Usa mais o site? Como ela faz a
entrega? Como conversa com os clientes?”, resume Cavalcanti.
Personas
para entrar no universo das representantes
A
Avon já possui um conhecimento em alto nível, mas essa metodologia desafia um
pouco essas pré-concepções e chegou a conclusões mais interessantes, mais
profundas sobre as revendedoras da Avon, que representam a marca para os
clientes finais.
“É
interessante perceber é que não dá para tratar a representante Avon como sendo
um único perfil, há diversidade e isso ajuda a priorizar o trabalho que vai ser
feito em termos de produto digital. Na prática, elas interagem com as
representantes, interagem com as consultoras, com os clientes finais e também
com a empresa através dessas ferramentas digitais, seja no celular, seja num
site.”
O
impacto dessa identificação foi para o centro da mesa. “Tanto na hora de fazer
uma funcionalidade específica, seja numa questão bem tática, mesmo,
operacional, ajuda a priorizar ações de acordo com cada perfil. Um trabalho
desses leva para a mesa de decisão estratégica no alto nível sobre onde a Avon
deveria focar com esse ou aquele perfil”. A noção de jornada da representação,
service blueprint, ajuda a identificar gargalos, que vão da logística à uma
questão específica de vendas, e ajudam a entender profundamente dores e, nesse
caso, na interação com ferramentas também é uma das formas de perceber essas
oportunidades.
É
possível olhar essa jornada desde antes mesmo do contato com a empresa e até
depois que o cliente recebeu o produto. No caso desse estudo da Avon, o
consumidor final não foi diretamente tocado, mas o material vai para as rodas
de discussão, onde são tomadas decisões estratégicas. “Mesmo que não estava
diretamente ligado com o processo inicial, há descobertas, e a partir daí
resultados que não são decisões de marca, decisões de priorização de produtos,
decisões de negócio.”
O
estudo ultrapassa a escala das revendedoras e passa de ponta a ponta pelo
processo. Apesar de o consumidor ver uma revista ou um site, há todo um
processo interno, de pedido, logística, mesmo sem a própria representante ter
conhecimento, mas que move o estoque, gera fabricação, logística e papel. Essa
série de processos, às vezes internos, não tem interação direta, mas começam na
revendedora e nas decisões que ela toma com suas clientes. “Com o estudo, estes
gargalos podem ser melhor percebidos e corrigidos”.
Este
é um processo complexo de entender intimamente os perfis com que a marca se
relaciona, as motivações, diferentes formas de realizar vendas, as dificuldades
enfrentadas no dia a dia, a relação com as ferramentas digitais da Avon, uma
empresa com mais de 136 anos de história, e a relação com a marca. “É natural
que, à medida em que a empresa vai crescendo, o processo se torne mais robusto.
E essa robustez às vezes vem com um pouco de burocracia também, às vezes vem
com um certo engessamento. Para uma empresa grande, essas oportunidades de
azeitar novamente aquela máquina são bem evidentes”, pontua o diretor da
Thoughtworks, que ressalta ainda que a técnica é bem portável para empresas
pequenas. “O que vai diferenciar é que uma empresa menor provavelmente é estar
focando em menos perfis ou em menos processos, mais simplificados”.
Cliente
no centro, na ponta e na mente
Mas
num estudo sobre representantes, é impossível não falar das pessoas com quem
eles dialogam. E o cliente é levado em conta dentro desse processo desde o
começo. “A parte fundamental no caso da Avon é que a representante é a empresa
para o cliente. A marca chega num intermediário que a representa. Você consegue
identificar qual é o perfil consumidor que essas pessoas atendem, o tipo de
contato. A gente tem que atender na verdade ao consumidor e prepara-las para
conseguir essa situação de ganha-ganha se vender mais”.
O
conhecimento gerado nesta frente, juntamente com outras iniciativas
estratégicas internas, ajudaram a empresa a voltar às suas raízes: uma relação
próxima entre Avon e as representantes, ajudando-as a prosperar seus negócios
cada vez mais e, assim, crescer junto.
“É
importante deixar claro que esse não é um mapeamento estático. É bem natural
que esse processo seja continuamente revisitado. As formas de pensar nessa
evolução, inclusive demograficamente, continuam sendo representativas”,
exemplifica Cavalcanti.
“A
quantidade de consultores que são nativos digitais vai ser bastante maior.
Então, daqui a alguns anos, vai ter uma quantidade mínima de pessoas que não
são nativas digitais usando essas ferramentas, e elas podem ser mais complexas.
É um processo natural. Por outro lado, esse processo tem um cunho estratégico,
com várias ações que podem ser tomadas em um processo evolutivo”.
Usabilidade
é tudo
Entender
melhor as motivações e restrições existentes ajudaram a identificar como cada
produto digital impacta o dia a dia das representantes, mapeando possibilidades
de melhoria nos produtos digitais da Avon. Outro aspecto essencial é a
usabilidade das ferramentas da marca pelas representantes.
“É
enorme o estudo e a responsabilidade. É preciso ter alguém focado nessa
jornada, nessa interação com aquele artefato digital para ajudar na adoção
daquela ferramenta. Design, usabilidade, interação são essenciais para um
produto digital conseguir ser bem-sucedido. As três ferramentas da Avon estabeleceram
uma nova forma de pensar com base em design, né? Então eu acho que isso é uma
mudança bem drástica e fornece insumos para tomar a decisão no mais alto nível.
Você passa a discutir, personificando aquela decisão, o que muda a forma de
pensar, muda as discussões no seu site, acelera discussões, inclusive. Quem
está fazendo o trabalho de desenvolver o produto, mas também quem está tomando
decisão sobre os rumos do negócio como um todo, e todo mundo falando a mesma
língua.”
Por: Cecília
Delgado,-Consumidor Moderno
Foto:
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