Voz da Diocese – Domingo dia 5 de março, “Deixar-se transfigurar por Cristo”
Minha
saudação aos irmãos e irmãs que acompanham Voz da Diocese. Celebramos o 2º
Domingo da Quaresma em preparação para celebrar a Páscoa do Senhor e a liturgia
da Palavra nos convida a “subir o monte com Jesus” para ouvir sua Palavra; para
contemplar sua glória e para deixarmo-nos transfigurar por Ele, no processo de
conversão que este tempo quaresmal nos propõe.
Na
Primeira Leitura tirada do Livro do Gênesis no diz que Abraão e Sara foram
chamados por Deus para “sair”. Sair da realidade de opressão e de morte que os
envolvia e os impedia de ter um olhar de esperança para o futuro. Foram
convidados a saírem de sua esterilidade, a terem uma vida fecunda e serem “pais
de um grande povo” (Gn 12,2), isto é, a acreditarem na possibilidade de um
futuro novo, uma bênção. E o texto do Gênesis diz que Abraão e Sara ouviram
este apelo de Deus: “E Abraão partiu, como o Senhor lhe havia dito” (Gn 12,4ª).
Abraão é figura de quem crê e, na fé, caminha confiante, aguardando a
realização da promessa divina em meio às adversidades da vida.
Caros
irmãos e irmãs. Como ocorreu com Abraão e Sara que ouviram a Palavra de Deus e
a acolheram, o Evangelho diz que Pedro, Tiago e João foram convidados por Jesus
para irem num “lugar à parte”, numa “alta montanha” (Mt 17,1). Para o povo da
Bíblia, a montanha sempre foi o lugar onde Deus se deu a conhecer. Foi no monte
Sinai que Deus entregou a sua Lei, os “Dez Mandamentos”, a Moisés. Foi lá,
também, que Deus se revelou a Elias na “brisa suave”. Lá no monte, depois de
uma longa conversa com Pedro, Tiago e João, Jesus “foi transfigurado diante
deles” (Mt 17,2). O texto bíblico diz que “o seu rosto brilhou como o sol e as
suas roupas ficaram brancas como a luz” (Mt 17,2). Por um lado, são imagens da
ressurreição de Jesus. Por outro, quer dizer que eles fizeram, com Jesus, uma
experiência profunda de Deus, que mudou o seu olhar, a sua compreensão a
respeito do próprio Jesus e de seu ministério. É o encontro profundo com Deus
que muda e converte as pessoas, que as faz ver a vida e a missão de forma mais
clara e convincente.
Jesus
já havia dito aos discípulos que ele “não veio abolir a Lei e os Profetas, mas
veio para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). Moisés e Elias, que
respectivamente representam a Lei e os Profetas, falaram com Deus no monte
Sinai. O texto do Evangelho descreve que eles estavam no monte, “conversando
com Jesus” (Mt 17,3). Significa que Jesus fez Pedro, Tiago e João compreenderem
que, por meio de seu ministério, ele era o novo Moisés, isto é, o verdadeiro
libertador, o libertador por excelência, e o novo Elias, ou seja, o verdadeiro
profeta.
Na
transfiguração, Jesus foi apresentado como o “Filho Amado do Pai” (Mt 17,5) e
os discípulos foram convidados a “escutar o que ele diz”. “Escutar o que ele
diz” (Mt 17,5) significa estar sempre aberto à sua Palavra e sua proposta de
vida. A afirmação “ouvi-o” lembra que a Palavra de Deus precisa ser ouvida,
praticada e ensinada. Ouvir “é entender e viver tomando a própria cruz (Mt
16,24-26). Ouvir é uma qualidade central do discipulado”.
Diante
dos discípulos medrosos, Jesus disse a mesma palavra que Deus havia dito
outrora a Abraão e Sara, em Gênesis 13,17: “Levantai-vos e não tenhais medo”
(Mt 17, 7). O encontro com Deus, com o Cristo Ressuscitado nos tira da
acomodação, nos faz sair das nossas tendas, nos encoraja e nos envia a descer
do monte para transfigurar a sociedade em vista do Reino da Justiça e da Paz e
como diz a Campanha da Fraternidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt
14,16).
Prezados
irmãos e irmãs. Rumo à Páscoa do Senhor, somos convidados a fazer a experiência
do encontro com Jesus transfigurado e a deixar-nos transfigurar por Ele.
Precisamos configurar nosso olhar com o de Jesus, um olhar que vê e permanece;
se envolve; se compromete, especialmente com ao mais sofredores. Assim como o
povo de Israel fora convidado a “ouvir” (Dt 4,1; 6,3-4; 18,15) e “pôr em
prática” (Dt 4,1.5-6; 6,1-3) a Palavra do Senhor, todos nós, como discípulos de
Jesus, somos convidados por Deus a fazer o mesmo. Que este tempo quaresmal
transforme nosso modo de pensar, de viver e de agir, construindo uma sociedade
justa e fraterna, onde não haja nenhum necessitado entre nós, como faziam as
primeiras comunidades cristãs (Cf. At 2,42-47).
A
todos um bom domingo e que Deus os abençoe.
Por: Dom
Adimir Antonio Mazali - Bispo Diocesano de Erexim – RS