A Voz da Diocese – “Curar as cegueiras para reconhecer Jesus”
Minha saudação aos irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Chegamos ao 4º Domingo da Quaresma e a liturgia nos apresenta a partir do Evangelho de João, os sinais que Jesus realiza, revelando sua própria identidade e missão.
O texto do Evangelho de São João é a passagem
da cura do cego de nascença (Jo 9,1-41). Jesus realiza sete sinais, que os
outros Evangelhos chamam de milagres. O sexto sinal é este da cura do cego de
nascença.
A finalidade dos sinais que Jesus realiza é
suscitar a fé nas pessoas, é dar a conhecer quem Ele é, levando-as a fazerem a
opção por segui-Lo e acolhendo o seu projeto, como fez com a Samaritana, no
Evangelho de domingo passado. Por isso, todos os sinais que Jesus realiza no
Evangelho de João despertam à fé e o compromisso de seguir Seus passos.
O contexto da cura do cego de nascença é o da
Festa das Tendas. Nesta Festa, o povo recordava o tempo que Israel passou no
deserto. Era um acontecimento festivo que suscitava esperança de vida nova,
especialmente às pessoas sofredoras e discriminadas. Nesse dia, o sacerdote ia
tirar água da fonte para com ela purificar o altar. À
noite acendiam-se tochas sobre os muros do templo a fim de iluminar a cidade.
Isto é importante, porque a cura do cego de nascença mostra que Jesus é a água
que nos lava das cegueiras da alienação e a luz que faz brilhar a visão da fé.
Prezados irmãos e irmãs. No relato da cura do
cego de nascença, três aspectos são
importantes: 1º) Jesus viu o cego de nascença (Jo 9,1),
que era pobre e mendigo, estando a caminho, com os discípulos; o importante é o
fato de Jesus ver aquele que é necessitado. A partir disso podemos nos perguntar: quantas vezes passamos
ao lado das pessoas, de modo especial, necessitadas, e fazemos de conta que não
as vemos? Também destacamos o encontro de Jesus com o cego/mendigo; que foi de
fundamental importância para o cego. 2º)
O ato da cura: este inicia com a pergunta dos discípulos: “Mestre, quem
pecou para que ele nascesse cego: ele ou seus pais ” (Jo 9,2)? Esta pergunta se
deve ao fato de que, para os discípulos, a cegueira era considerada castigo de
Deus devido aos pecados do próprio cego ou de seus pais ou familiares. Por
isso, Jesus deixou claro que não foi ele e nem seus pais que pecaram, isto é, a
cegueira tem outras causas, ela não pode ser considerada castigo de Deus (Cf.
Jo 9,3). Nisto Jesus se revelou a ele como a luz do mundo: “Enquanto estou no
mundo, Eu Sou a luz do mundo” (Jo 9,4)). A partir disto, Jesus “cuspiu no chão,
com a saliva fez lama e colocou-a sobre os olhos do cego e mandou-o lavar-se na
piscina de Siloé, que quer dizer Enviado” (Jo 9,6); 3º) A constatação da cura, ou seja, o cego acolheu a palavra, o
pedido de Jesus: “ele foi, lavou-se e voltou enxergando” (Jo 9,7).
Este cego de nascença e, também mendigo, do
Evangelho, tornou-se discípulo de Jesus. O encontro com Jesus o transformou
totalmente, assim como ocorreu com a Samaritana, domingo passado. De cego que
era, tornou-se uma pessoa nova. Ele passou a ver as pessoas e a sociedade com
os olhos de Jesus. Os fariseus, porém, presos e “cegos” à Lei, não aceitaram a
ação de Jesus. O Evangelho mostra que o cego fez uma caminhada na fé que se dá
em etapas: começou reconhecendo que Jesus era simplesmente um homem: “Aquele homem chamado Jesus fez lama, colocou-a nos meus
olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’” (Jo 9,11); depois progrediu,
reconhecendo-o como Profeta: ao
perguntarem sobre o que ele diria a respeito daquele que lhe abrira os olhos,
ele respondeu: “É um profeta! ” (Jo 9,17); depois o reconheceu como aquele que vem de Deus: “Se esse homem
não viesse de Deus, não poderia fazer nada” (Jo 9,33); finalmente, fez sua
profissão de fé em Jesus como o Senhor: “Eu creio, Senhor! E prostrou-se diante
de Jesus” (Jo 9,38).
Caríssimos irmãos e irmãs. Somos chamados a
fazer o encontro com Jesus e a mergulhar na sua proposta, a penetrar nas
profundezas do Evangelho, para que ele nos lave e nos purifique e nos cure de
nossas cegueiras. Jesus é portador de uma palavra que abre os olhos da fé e nos
dá uma visão nova, tornando-nos pessoas novas, capazes de olhar com mais
atenção os desafios de nossa sociedade e a ver a realidade de nossos irmãos e
irmãs marcados, especialmente, pela situação da fome, assumindo atitudes e
ações de solidariedade para com eles, como nos lembra a Campanha da
Fraternidade, deste ano. Assim, no encontro com Jesus na comunidade e na
acolhida dos gestos e suas palavras, somos convidados a abandonar nossas
cegueiras e adquirir a visão da fé, tornando-nos discípulos missionários de
Jesus e acolhendo-O como o Senhor de nossas vidas.
Desejo a todos uma boa preparação para a Páscoa e um bom domingo.
Por: Dom Adimir Antonio
Mazali - Bispo Diocesano de Erexim – RS