Nova Máquina. Precisão robótica na alimentação de suínos.
(Animais são chamados a se alimentar ouvindo música erudita | Foto: Roboagro / Divulgação / CP.)
Máquina
testada pela Embrapa Aves e Suínos, de Concórdia, Santa Catarina, em parceria
com empresa privada, fraciona ração dos animais, o que melhora a eficiência
alimentar do plantel e a produtividade.
Semelhante
a um carro transportador de alimentos, um equipamento automatizado circula
entre as baias de uma granja de suínos, distribuindo ração em quantidades
milimetricamente calculadas para os animais, enquanto toca a Suíte Nº1 em Sol
Maior para Violoncelo, do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750).
Usado em um experimento da Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), o robô é
um exemplo de como os princípios da zootecnia de precisão vêm mudando a
realidade das propriedades dedicadas à suinocultura no Brasil. Conduzida no ano
passado em parceria com a agtech Roboagro e com a cooperativa catarinense
Copérdia, a pesquisa concluiu que dividir a refeição do rebanho em quatro ou
cinco porções diferentes – dependendo do mercado-alvo da produção – ao longo do
dia melhora a eficiência alimentar.
Para
o pesquisador da Embrapa Osmar Dalla Costa, um dos responsáveis pelo estudo, a
adoção de técnicas capazes de reduzir o desperdício de insumos e aumentar o
controle do processo produtivo é um “caminho sem volta” no setor. “Hoje, o
grande desafio é reduzir o custo de produção. Na suinocultura, até 80% (desse
gasto) está na alimentação de suínos”, diz. O experimento foi conduzido em duas
propriedades de crescimento e terminação de suínos, situadas nos municípios de
Aratiba e Presidente Castello Branco, cada uma com duas instalações distintas e
64 baias. Na primeira granja, voltada à produção de suínos para o abastecimento
doméstico, foram acompanhados 768 animais suplementados com ractopamina. Na
segunda, focada no mercado externo, os pesquisadores avaliaram 832 animais que
não receberam o aditivo na ração.
Segundo
Dalla Costa, o equipamento da Roboagro possibilitou que os pesquisadores
implantassem um esquema de distribuição diferenciada do alimento em horários
programados, levando em conta as diferenças de peso dos animais alojados e os
horários em que eles se mostram mais dispostos a comer. “Com o robô, você
consegue dar mais ração para os animais mais leves e menos ração para os mais
pesados. E, conseguindo fornecer uma quantidade maior nas horas mais frescas e
usar menos ração nas horas mais quentes, você melhora o desempenho dos
animais”, detalha.
No
experimento, os animais foram divididos em quatro grupos. Dois deles foram
alimentados com ração em porções iguais ao longo do dia – um grupo quatro vezes
e o outro em cinco tratamentos. Os outros dois grupos também receberam quatro
ou cinco refeições durante o dia, mas em quantidades diferentes – porções
maiores pela manhã e à noite (nas horas mais frescas), e menores nas refeições
intermediárias. “Os animais nutridos com ractopamina apresentaram melhor
conversão alimentar quando foram alimentados com quatro pratos e porções
distintas”, explica Dalla Costa. No caso dos suínos destinados à exportação, os
melhores resultados foram atingidos com a nutrição realizada durante cinco
vezes ao dia em quantidades distintas.
Ao
tocar música, convidando os suínos a ir até o comedouro, o robô pode ser um
aliado das práticas de bem-estar animal, segundo Dalla Costa. A escolha da peça
de Bach, aliás, não é arbitrária. Defendida em 2018, uma tese de doutorado da
zootecnista Érica Harue Ito, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP), mostrou que a
composição teve efeito positivo no comportamento e no ganho de peso de suínos
que a ouviram durante um mês. Por não exigir a ação de um operador, o
equipamento também melhora as condições de trabalho na granja. “Os manejadores
vão ter mais tempo para observar os animais, ver os que não estão comendo, se
estão doentes. (Termina) o trabalho braçal e começa um trabalho de inteligência”,
afirma o pesquisador.
O
CEO da Roboagro, Giovani Molin, diz que o uso da tecnologia proporciona uma
economia média de R$ 15 por animal. Isso significaria uma redução de custos
anual de R$ 135 mil por granja, considerando-se que um robô pode atender 3 mil
suínos. “Uma integração média no Brasil produz 1 milhão de animais por ano.
Então estamos falando de R$ 15 milhões de economia por ano por agroindústria”,
estima o executivo. Com capacidade para armazenar uma tonelada de ração a cada
ciclo, o equipamento percorre toda a extensão do aviário distribuindo até 9 toneladas
de alimento por dia.
Outra
vantagem do sistema, explica Molin, é a garantia de gestão em tempo real, já
que os dados relativos a todas as atividades do robô podem ser monitorados em
uma plataforma digital da Roboagro. Essa função permite detectar problemas com
os animais precocemente e adotar medidas corretivas antes do envio para o
frigorífico. “O produtor consegue acompanhar o andamento do lote. Se tem de
fazer alguma intervenção, tem tempo de fazer isso para garantir um bom
resultado”, observa Molin.
Atualmente, segundo o executivo, a Roboagro soma mais de mil robôs em operação, distribuídos entre propriedades no Rio Grande do Sul e nos estados de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais. Em conjunto com a Embrapa, a empresa já trabalha para incorporar novos recursos às futuras versões do modelo. Uma das melhorias previstas é a inclusão de câmeras para monitoramento de aspectos como peso e temperatura dos animais e de seu comportamento nas baias, além de uma função para distribuir dois tipos de ração (mais e menos concentrada). “A partir da robotização da suinocultura, estão surgindo muitas demandas de ferramentas e práticas que poderiam ser adotadas para garantir os melhores resultados. Estamos agregando sensores, acessórios, implementos ao robô, que, ao percorrer a granja, proporciona a aplicação dessas melhores práticas”, destaca Molin.
Por: Patrícia
Feiten – Correio do Povo